Igreja de Benguela

"Buscando a integralidade"

(Exercícios psico-espirituais)

"Vinde vós, sozinhos, comigo para um lugar isolado e descansai um pouco"

(Mc 6, 31)

0. APRESENTAÇÃO (hic et nunc)

Um homem, quase de noventa anos, era convidado a comparecer a muitas cerimónias.

Certa vez, viram-no numa recepção e perguntaram-lhe a quantas festas ia naquela noite.

…Não é nada fácil saber, exactamente, onde se está num momento dado…

0.1 É ISTO UM RETIRO?

0.1.1 O que temos de pressupor

No dicionário encontramos que retiro quer dizer: o efeito de se retirar, afastamento, distância, solidão; recolhimento e exercício piedoso.

Retirar-se para Deus, mas com os outros… Não é fugir, é tomar distância para melhorar a perspectiva…

Provavelmente fazer retiro seja estar uns dias, como o povo de Israel, nos seus tempos primitivos, nas tendas do deserto; provavelmente seja permanecer nómade e sem lugar fixo, seja fazer a experiência primordial do Deus que intervém na história colectiva e pessoal; provavelmente, trata-se de descobrir que Deus não tem casa, não se instala em nenhum lugar, que está em toda parte, que está em todos e no interior de cada um.

0.1.2 Formação Humana – Introspecção

Faremos muita ênfase na parte humana, psicológica, psicofisiológica inclusive, porque:

0.2.3 Metodologia

Qual será a maneira de nós trabalharmos neste retiro:

Faremos uma série de reflexões que não se propõem a dar respostas definitivas.

Mais do que falar sobre o "quê", vamos falar sobre o "como". Sobre o processo.

Este retiro pode ser considerado como um quebra-cabeças... vão-se dando peças e no fim temos a figura completa... Iremos fazendo esboços, no fim veremos...

0.2 CÍRCULO DA EXCELÊNCIA

Criação da "Linha do Tempo": Convém experimentar que a nossa vida é dinâmica, que possui uma sequência. Podes "sentir" isto?

PASSADO è PRESENTE è FUTURO

como um rio… como uma estrada… como uma ponte…

EXERCÍCIO: ESTADO DE EXCELÊNCIA

  1. Identifica, nas tuas memórias, uma vez em que te sentiste totalmente à vontade ao orar/meditar/reflectir; uma situação em que sentiste que "funcionavas" bem estando de retiro. Este é o teu estado de excelência para este contexto. Provavelmente era uma atitudes de abertura, de não "teologizar", de "se me serve o tomo/se não me serve o deixo", de tolerância e flexibilidade, de confiança, coragem para a introspecção, humildade perante Deus e a sua obra nas nossas vidas, de liberdade dos filhos de Deus, de aventura…
  2. Cria mentalmente um círculo frente a ti, no chão, próximo a ti e pinta-o da tua cor preferida.
  3. Lembrando intensamente aquela experiência, entra no círculo imaginário. Recupera este momento em que te sentiste com todos os teus recursos e capacidades para orar/reflectir/participar activamente. Recorda o que é que estavas a ver naquele dia, o que estavas a ouvir e, sobretudo, o que estavas a sentir. Volta a recriar essa cena como se estivesse a acontecer neste momento. Qual é o teu estado interno dentro desta "fantasia"?
  4. Deixando este estado - estas sensações - no círculo, depois voltarás a entrar, sai por um momento. Mexe o teu corpo um pouco.
  5. Regressa a ele, o que é que experimentas quando entras nele? Esta é só uma pequena prova para saberes que o simples facto de entrar no círculo, onde está ancorada esta experiência, pode ajudar-te a recuperar este estado de excelência. Depois de experimentares estas mudanças no teu corpo, sai novamente. Mexe novamente o teu corpo.
  6. Fora do círculo, pensa onde e quando gostarias de ter este estado de excelência, pode ser nestes dias de retiro. Representando esta situação na tua mente, talvez como num filme, entra no círculo.
  7. Dentro do círculo, assiste aos ajustes que automaticamente se dão na tua representação e no teu estado interno. Podes também fazer outros ajustes ao teu estado e/ou desempenho até ficares satisfeito. O que é que te indicará, no futuro, que é tempo de usares este estado de excelência? (Pode ser uma coisa que vejas, que oiças ou que sintas).
  8. Antes de saíres do círculo, imagina que o absorves, que a sua cor entra no teu corpo, que a sua luz corre pelas tuas veias… Até todo o teu ser estar "pintado" com essas características. Finalmente sai deste lugar.

  9. Faz uma prova final na tua mente, imagina essa possível situação futura: o que é que se passa agora se pensas nesta situação futura?

 

 

INTRODUÇÃO

"Há muitas verdades mas a realidade é uma só."

William James

Nós somos pastores, aprendizes de pastor, o nosso olhar sobre o mundo deve (deveria) ser o olhar do Bom Pastor.

1. CONTEXTO MUNDIAL

Quais são algumas das características mais relevantes do nosso mundo neste tempo?

No início do século XXI podemos salientar alguns "sinais dos tempos":

Tudo isto nos leva a ficar envolvidos numa "crise de civilização". O primeiro mundo parece estar na era "pós": pós-industrial, pós-cristão, pós-moderno. O terceiro mundo está a sofrer o passo das aldeias particulares à aldeia global e o passo das civilizações tradicionais, rurais e orais à era escrita, cibernética e tecnológica.

E, entre os que dizem que estamos já na pós-modernidade, há pelo menos, duas posturas: 1) Anti-modernidade: materializada num movimento de desconstrucção da razão científico-técnica; pretende desconstruir o "mito da modernidade", e 2) Sobre-modernidade (Conceito recente, utilizado nos meios universitários do eixo belgo-francês): um projecto de reimpostação e complementarização da razão ilustrada; é um movimento de continuidade e descontinuidade da modernidade, quer de ampliação dos seus valores e teses, quer de correcção dos seus excessos; pretende recontextualizar a "utopia da modernidade".

2. CONTEXTO ANGOLANO

Algumas das características mais sobressalientes na paradoxal realidade angolana:

Angola produz 770 000 barris de grude/dia, mas ocupa o lugar 160º de desenvolvimento entre 174 países. Em 1998, antes do recomeço da guerra, podia dizer-se que de cada 100 crianças que nasciam 17 morreriam à nascença e, antes dos cinco anos haveriam morto outros 29, que dos sobreviventes 17% sofreriam de má nutrição e muitos seriam afectados pela poliomielite (Angola é o país mais atacado de África), 80% viveriam em pobreza "absoluta ou relativa", 66% não teriam água potável nem instalações sanitárias, 80% não teria acesso a serviços de saúde e teria famílias desempregadas, por volta do 30% dependeria diariamente de assistência alimentar (estrangeira), muitos morreriam ou seriam mutilados pelas minas anti-pessoais. Depois do reinício da guerra os dados devem ser piores. Os abundantes recursos naturais não são partilhados pela população, há cada dia menos oportunidades de acesso à educação, faltam tecnologias modernas para a agricultura e a indústria, etc.…

Angola encontra-se dividida entre contradições políticas e ideológicas que a levam a uma guerra sem fim, cujas consequências, além do fim do conflito armado, durarão na consciência (e no inconsciente individual e colectivo) dos angolanos por décadas... Especialmente nas novas gerações que não conhecem outra realidade...

Angola não se reconhece a si mesma como um mosaico cultural (com diversas etnias, línguas e raças), nem como mestiça (de bantos, bushmen, europeus, de outros continentes e todo género de mulatos). Ainda não estão cicatrizadas as feridas do colonialismo, comunismo e... Será que precisa negar para se defender da angustiosa verdade?

As pessoas, a maior parte da população, que já perderam a liberdade, a dignidade e a memória, carecem agora da virtude e da atitude da esperança; já não têm capacidade de sonhar, de idealizar e programar…

Na sua maioria de população banto, Angola é herdeira das "bondades" e das sombras dessa cultura. Um grande perigo é o conceito (inconsciente) muito paternalista de que o grupo, o clã, a família vale mais do que o indivíduo. Um solteiro é considerado sempre como uma ‘criança’. "Os deveres para com a família levam, por um lado, a uma sobrevalorização dos poderes do grupo ou dos elementos que têm influência sobre o indivíduo e, por outro, a uma regressão à irresponsabilidade pessoal. Assim a felicidade ou a desventura do negro africano é sempre um assunto dos outros. O êxito material é atribuído à colectividade que tem direito de beneficiar-se dele tanto como o próprio, e os seus fracassos, p. e. cair doente, supõe-se provir dos outros com quem, necessariamente, se têm de acertar contas, se se quiser adquirir de novo a possibilidade de prosperar". O grupo familiar defende das agressões externas económicas, físicas ou míticas. Talvez é por esta razão que nas cidades se formam famílias artificiais vinculadas por necessidade e temor mútuo, com deveres não muito exigentes e elos pouco firmes e duradoiros que são vividos como patogénicos potenciais.

O mecanismo de defesa mais utilizado e a projecção; o mal sempre depende de outros: vivos, mortos, demónios ou maus espíritos, "malfeitores" ou bruxos, nunca é assumido como consequência das próprias acções e do próprio estilo de vida. Também parece que quase sempre se espera (e se busca numa carreira desenfreada) um alívio total, sem recaídas. O mal (doença, desgraça, infortúnio) e o malfeitor (culpado) são necessários para o "equilíbrio" de forças no grupo. Por outra parte, no momento actual, estamos perante um desmembramento deste sistema tradicional.

Angola também é herdeira do pensamento ocidental, com as suas luzes e limites, especialmente pelos séculos de contacto, para bem ou para mal, com Portugal. E porque hoje ninguém pode marginalizar-se dos acontecimentos mundiais, da globalização, da aldeia comum...

Convinha a Angola recuperar grande parte da sua história agora marginalizada, negada por vir de grupos "negados" pelo poder… O crescimento, tanto pessoal como colectivo, depende da integração dos opostos...

PARA APROFUNDARMOS:

Dado que o mundo está cansado de palavras, precisa homens que vivam o que pregam, que dêem testemunho de vida, formados à altura da situação, de valores evangélicos, capazes de dialogar com o mundo, com visão de futuro, criadores de sonhos… Podemos nos perguntar: que tipo de pastor precisa esta realidade (tanto mundial como nacional)?

Que achas da frase que recomenda: "pensar no universal e agir no particular"?

3. O RETIRO E A NOSSA ESPIRITUALIDADE (CRISTÃ E SACERDOTAL)

O "retiro" é um tempo privilegiado para revisar - cultivar - reformular a nossa ESPIRITUALIDADE... Espiritualidade, essa coisa indefinida, da que, por vezes, vivemos pouco e que teorizamos muito...

Aqui partilharemos uma série de reflexões à volta desta vivência da espiritualidade... Não pretendo dar respostas, não sou o mais indicado para isso... Só tentarei sugerir que a espiritualidade é:

Estamos aqui como sacerdotes, como cristãos que quisemos responder a um especial chamado de Amor de Jesus… Que quisemos responder e que queremos continuar sendo-Lhe fiéis… que queremos ser, como Jesus, castos, pobres e obedientes… queremos ser aqueles que acreditam que a riqueza não consiste em ter tudo, mas sim em não desejar nada que não seja a vontade do nosso Deus; aqueles que acham que a realização não está em fazer a nossa vontade, mas a d’Aquele que nos escolheu; aqueles que querem fecundar o mundo com o seu amor…

4. OBJECTIVOS

Estes dias e estas reflexões são para ajudar a abrir janelas, a correr cortinados para que entre a luz nalgumas áreas das nossas vidas...

Na preparação e partilha deste material motiva-me um desejo, que também era de Jung, "ver aparecer uma geração de sacerdotes capazes de entender novamente a linguagem da alma".

Partimos da perspectiva de que o "retiro" é feito por cada um de nós; eu proponho algumas ideias para reflectirmos, cada um vá, na solidão do seu cantinho, na intimidade da capela e "tira" conclusões para a sua vida... Depois partilhamos com os colegas e amigos... Finalmente, apresentamos ao Senhor que nos chamou os resultados e pedimos forças para desenvolver as suas inspirações...

Portanto, convém especificar o objectivo pessoal para este retiro:

 

1. SEMEADOR

(Mt 13, 4-8.18-23)

1.1 NÍVEIS NEUROLÓGICOS

Nós temos uma maneira total de ser, influenciada por muitos factores: individual, psicológico, social, físico e nutricional, relacional, estrutural, espiritual, etc. Há algumas perguntas importantes:

Alguns destes factores podem ser muito influenciados por nós, outros apenas parcialmente ou nada. A Programação Neurolinguística (PNL) desenvolveu uma maneira útil de pensar sobre os diferentes níveis de controlo e de influência, úteis em diferentes campos, como tomada de decisões, saúde e espiritualidade. Eles são chamados "níveis neurológicos" ou simplesmente "níveis lógicos". Podemos considerá-los como níveis de vida, de mudança, de decisão, de compromisso, conversão, de morte e/ou de ressurreição. Vejamos brevemente cada um deles:

  1. O primeiro nível é o ambiente: constituído pelos lugares que frequentamos e as pessoas com as quais convivemos. Podemos distinguir entre ambiente interno e externo. Ambiente interno é o que "metemos" no nosso corpo, o ar que respiramos, o que comemos e o que bebemos, etc.
  2. O ambiente social é particularmente importante, o local onde vivemos, o tamanho do nosso grupo, o relacionamento étnico, a tranquilidade ou a guerra... A força e boa qualidade das nossas relações humanas - amigos, família, colegas – ou a solidão e as insatisfações nestes relacionamentos ...

  3. O segundo nível é o comportamento: é aquilo que fazemos. Cuidado, porque o que deixamos de fazer também é algo que fazemos… Também os pensamentos e sentimentos são "coisas" que nós fazemos…
  4. O terceiro nível é o das capacidades: são as acções e hábitos repetidos, constantes. Obviamente há hábitos que podemos denominar de saudáveis e outros de daninhos. Geralmente, os maus hábitos não são interrompidos pela força da vontade, mas sim, pela descoberta do objectivo por trás do hábito e pelo esforço para alcançá-lo de modo mais saudável.
  5. Este é também o nível das "estratégias" – formas habituais de pensar e agir. São sequências de pensamento que usamos continuamente e, portanto, levam a acções habituais. Todas as nossas maneiras de agir e reagir dependem de sequências específicas. Este nível explica o "como", a parte prática. Desde aqui podemos também modelar a estrutura do comportamento de outrem.

  6. O quarto nível é o das crenças e valores: são os princípios que orientam as nossas acções.
  7. As crenças determinam a maneira como nós nos vemos a nós mesmos, como reagimos perante os outros e qual é o significado que damos às nossas experiências. Algo que consideramos puramente mental (uma crença) tem um efeito real e tangível na nossa fisiologia. É importante tomarmos consciência das nossas crenças e, se são conflitantes, mudá-las.

    Os valores são as coisas importantes para nós, as coisas que buscamos – saúde, riqueza, amor, segurança, felicidade, etc.. Os valores agem como ímans no nosso comportamento. Porque fazemos aquilo que fazemos? Geralmente não mudaremos se não acreditamos que a mudança nos proporcionará uma coisa importante ou nos afastará algo que desejamos evitar.

    As crenças e os valores não são necessariamente lógicos, geralmente tampouco são questionados conscientemente, embora mudem "naturalmente" com o passar do tempo.

  8. O quinto nível é o da identidade/missão: é a autoconsciência plena, as crenças e valores fundamentais que, na nossa opinião, nos definem e definem a nossa missão na vida.
  9. O sexto nível é o de além da identidade ou o nível da espiritualidade: é a nossa ligação com os outros e com aquilo que é mais do que a nossa identidade. É desde este nível que se pode captar tudo e fazer sínteses e transcender a realidade. É importante alinhar todos os outros níveis desde este plano.

É importante sabermos qual é o nível no qual queremos intervir duma maneira especial.

Por vezes pensamos neles como uma hierarquia, mas parece que são círculos concêntricos, dimensões ou uma espécie de holograma. Cada nível afecta os outros e todos são importantes para o estado final do "organismo". Inclusive, têm clara influência na nossa fisiologia.

NÍVEL

LINGUAGEM

FISIOLOGIA

ñ

ESPIRITUALIDADE – TRASCENDÊNCIA – ALÉM DA IDENTIDADE

Quem mais?

ñ

IDENTIDADE – MISSÃO

Quem sou? Para quê estou no mundo?

Sistema imunológico

ñ

VALORES – CRENÇAS

Por quê?

Sistema nervoso autónomo

ñ

HABILIDADES

Como?

Semi-consciência

ñ

CONDUTAS

Quê coisa?

Acções conscientes

ñ

CONTEXTO

Onde? Com quem?

Reflexo sensorial

1.2 SEMEADOR / NÍVEIS E OBSTÁCULOS

NÍVEIS

 

A SEMENTE CAI

ESPIRITUALIDADE

ESPÍRITO

…em terra boa…

IDENTIDADE

CRENÇAS E VALORES

CORAÇÃO

…entre espinho…

HABILIDADES

CORPO

…em lugares pedregosos, onde a terra não é profunda…

CONDUTAS

…á beira do caminho, onde o solo é duro…

CONTEXTOS

Convém ler Mt 13, 4-8.18-23.

Níveis de terra

OBSTÁCULOS

…terra boa…

…o fruto depende da força da semente, 100, 60 ou 30… …terra boa…

…entre espinho…

…fica sufocada, entre espinhos / entre os outros interesses e os conflitos entre diversos valores...

…lugares pedregosos, onde a terra não é profunda…

…falta profundidade, tem "pedras", não tem raiz em si mesmo… é entusiasta, mas inconstante… até a luz do sol queima e mata… sucumbe perante à primeira dificuldade…

…á beira do caminho, onde o solo é duro…

falta abertura… vêm as aves e as comem…

não entende e o "mentiroso" as arrebata …

Daí a necessidade de abertura e flexibilidade, de retirar as nossas pedras e aprofundar "a nossa terra", de clarificar as nossas crenças e valores, de especificar os nossos objectivos... De alinhar os nossos níveis...

1.3 POSSÍVEIS EXERCÍCIOS: SCORE, EXPLORAÇÃO E ALINHAMENTO DOS NÍVEIS NEUROLÓGICOS OU ORAÇÃO DO SEMEADOR

Depois de ler o texto do Evangelho, "entrar" em cada uma das seguintes posições para "perceber" mais coisas desde cada uma delas…

 

Com toda esta informação, tomar resoluções…

 

2. SAÚDE TOTAL: INTEGRAÇÃO, CENTRALIDADE

"estruturas sociais mais humanas e harmoniosas derivam de um relacionamento mais harmonioso do indivíduo consigo mesmo, mais do que provocam."

2.1 DIMENSÕES DA SAÚDE (razão, sensação, sentimento e intuição)

Numa abordagem espiritual da saúde necessitamos ter em conta os elos de ligação entre diferentes planos de saúde: pessoal, social e cósmico. Comecemos por fazermo-nos e responder quatro questões fundamentais:

O sentido da existência

A filosofia

Por quê?

 

Tradições espirituais

Religiões

Para quem?

 

 

O que?

Ciências físicas

Ecologia

 

Quem?

Psicologia

Sociedade

O quê? O que existe realmente? Qual é a realidade do mundo? A saúde física está ligada à saúde da terra, por isso é que está ligada à ecologia.

Quem? Quem sou eu realmente? Quem es tu? Qual é a relação entre tu e eu? A saúde psicológica e afectiva depende da minha relação com os outros, depende, em grande medida, da saúde social. O inconsciente pessoal não está separado do inconsciente colectivo. A saúde da sociedade é o que chamamos justiça.

Por quê? Porque esta vida? Porque esta existência no espaço-tempo? O conhecimento filosófico não é só para acumular conhecimentos e teorias sobre o homem e sobre o mundo mas para descobrir o sentido da existência. A minha saúde depende do sentido que dou à minha vida. O sentido que dou a uma doença pode transformá-la numa ocasião de tomada de consciência…

Para quem? Para quem nós vivemos? Para quem nós trabalhamos? Para quem nos fatigamos? Estas perguntas fazem parte da nossa saúde espiritual. É a pergunta fundamental das tradições espirituais cuja finalidade é religar-nos à fonte do Ser e dos seres é a pergunta para sabermos e vivermos por amor, para alguém, quer uma/s pessoa/s exterior/es, quer uma presença interior.

O importante e fazer uma integração destes quatro planos de saúde. Trata-se de integrar a razão, a sensação, o sentimento e a intuição. É desta integração que podemos encontrar e aceitar o nosso Self verdadeiro. A doença consiste em vivermos apenas numa destas partes: só na cabeça, só nas sensações, só na afectividade, só na inspiração ou nas revelações interiores. A saúde integral (holística) duma pessoa deve levar em consideração todos estes aspectos.

 

Por quê?

Razão

Abertura a novas descobertas ou fechamento em "universidades"Para quem?

Intuição

Abertura para o absoluto ou enclausuramento em "mosteiros"

 


Centro de si mesmo (Saúde) Espírito

O que?

Sensação

Abertura para a terra ou fechamento em si mesmo

 

Quem?

Sentimento

Sociedade justa ou hospital psiquiátrico

PARA REFLECTIRMOS – APROFUNDARMOS:

Nesta figura poderíamos vermo-nos, como num espelho, e verificarmos o nosso estado de saúde total, verificarmos se estamos mais ou menos aprisionados, observarmos os aspectos que faltam nas nossas relações com a criação, a sociedade, com Deus e com as nossas descobertas e pesquisas intelectuais.

Como é lógico, alguns (e/ou por algum tempo) trabalhamos mais um aspecto do que os outros, daí a importância de pertencermos a pequenos grupos de amigos, equipas de vida ou inter-disciplinárias.

2.2 ESPIRITUALIDADE E SAÚDE

Para sabermos o que é que é a Espiritualidade, comecemos por revisar a categoria Espírito, esta remete-nos a uma experiência originária presente em todas as tradições culturais, espirituais e filosóficas. Tudo aquilo que respira e vive é portador do Espírito.

A palavra Espírito está representada pela palavra médio-oriental e hebraica ruah, pela palavra grega pneuma e pela latina spiritus. Ela remete-nos à experiência de que a respiração, a vida, o espírito estão ligados a uma fonte da qual bebem todos os que vivem e respiram.

Coisa digna de considerar é que Ruah, feminino nas línguas médio-orientais, é o princípio de vida, é o Spiritus Creator que paira sobre o caos primitivo. Princípio feminino, materno. A dimensão feminina de Deus. No cristianismo primitivo, até os séculos VIII e IX, o Espírito Santo era representado em forma de mulher.

2.2.1 Conceitos antigo e moderno do Espírito:

Por muito tempo entendeu-se o espírito como uma parte que é transcendente e eterna, que, juntando-se ao lado terreno e mortal, o corpo, compõe o ser humano. Quando a morte os separa, o corpo fica aqui e o espírito vá para a eternidade. No entanto, a experiência que temos não é dual. Só temos a experiência imediata de que temos um corpo vivo, vitalizado. A vida é a realidade mais profunda do ser humano.

O conceito moderno, aparecido depois de Kant e de Hegel, diz que o espírito não é uma coisa mas um modo de ser. O modo de ser da liberdade. Por isso o ser humano é definido como um ser que no exercício da liberdade constrói o seu ser, através de suas decisões, plasmando a existência. Esta concepção, embora melhor do que a dualista, pensa o espírito humano desgarrado do "espírito" cósmico.

2.2.2 A espiritualidade:

Se o espírito é vida, o oposto ao espírito não é a matéria, é a morte como negação da vida. Espiritualidade, então, significará alimentar em nós a fonte da vida. A espiritualidade seria uma vitalidade. A espiritualidade, percebida desde esta óptica, é um projecto que coloca a centralidade da vida a partir daqueles que menos vida têm, os que estão mais ameaçados na sua vida e mais próximos estão à morte. Em decorrência disso, toda espiritualidade tem a dimensão ética de defender e expandir a vida, porque tudo o que vive merece viver. Especialmente assumir a vida daqueles que morrem antes de tempo, que injustamente têm a sua vida encurtada.

E, como a vida não está só no homem, o ser humano só se sente realmente portador do espírito quando se re-liga e se irmana, como Francisco de Assis, com os outros portadores do espírito, os irmãos animais, as irmãs plantas e até o irmão sol e a irmã lua… De facto a ciência nos diz que todos, desde os microorganismos mais primitivos até os seres humanos, temos o mesmo código genético… Da maneira como o ser humano está vivendo é um exilado… Pertence à saúde humana, especialmente à saúde espiritual, a volta à mátria comum, à criação toda… Lembremo-nos que Adão significa "filho da Adama, filho da terra". Por sua vez homo vem de humus, terra fecunda...

Podemos assim dizer que se o espírito é vida, é a fonte donde tudo brota, no nível humano o espírito é a vida que chega ao seu momento consciente, reflexo e responsável.

Mas, por outro lado, o ser humano criou o princípio de autodestruição. O espírito da vida transformou-se em espírito de morte. O que gera outro princípio, o de responsabilidade. O princípio ético de que a nossa vida depende de uma decisão nossa. Temos que decidir se vamos viver ou se vamos morrer… É o drama que começou no Paraíso com o pecado original…

Por isso é que actualmente é importante recuperar o espírito como vida, como uma opção pela vida, a começar pela vida do corpo, contra os mecanismos de morte que se configuram em grandes sistemas... Cada dias morrem de 75 a 100 mil pessoas em consequência da exclusão e da falta de políticas ligadas à vida.

Nunca se acumulou tanta riqueza e tantos conhecimentos tecnológicos às custas de uma taxa de perversidade e injustiça social jamais vista antes. O grande desenvolvimento tecnológico é profundamente inumano porque não é repartido, não produz vida, produz morte.

Por isso, falar de espiritualidade, hoje, é subversivo e politicamente perigoso, porque a espiritualidade defende a vida, defende os que precisam, defende a floresta amazónica, o mico-leão dourado... Mas não basta preservar o mico-leão dourado em cativeiro, é preciso preservar o ecossistema onde ele vive, com as suas interacções que lhe garantem a vida...

2.2.3. O cuidado e a ternura:

"As duas atitudes básicas que a vida exige, são: cultivar o cuidado e alimentar a ternura". Cuidado e ternura são as categorias mais esquecidas da modernidade e são, provavelmente, das que mais precisamos. São relegadas como femininos, algo que não conta, que não é produtivo.

Se não houver cuidados a vida, que é frágil, não floresce nem sobrevive. A ternura é a capacidade de inclinar-se sobre o que vive para cuidá-lo, para aconchegá-lo e fortificá-lo. Temos de recuperar esse espírito que Pascal chama de Esprit de finesse, espírito de fineza, de intuição, de refinamento, este espírito deve ser captado e cultivado. Contrapõe-se ao espírito de geometria, da matemática, do cálculo, da física, da violência. O Esprit de finesse é o princípio feminino que está tanto na mulher como homem, porque é um princípio, não é uma substância. O princípio feminino está em união e complementa o princípio masculino de protecção, do projecto, da construção.

Podemos entender a espiritualidade como uma forma de harmonizar essas dimensões e viver a partir delas. Isto é saudável, produz vida e saúde. A nossa espiritualidade deve estar animada, quer dizer, deve ter anima, vitalidade.

2.3 QUE É SANIDADE? QUE É SANTIDADE? (O que significa ser são e ser santo?)

2.3.1 Só um pouco de etimologia

Sânscrito: palavras como são, saúde, santo, sanidade, santidade, etc., têm a mesma raiz sa, esta raiz usa-se para significar consciência, conhecimento, felicidade... Saúde seria o estado sagrado...

Grego: a palavra soteria é a mesma para saúde e salvação.

Hebraico: as palavras para designar saúde e salvação podem significar também "respirar ao largo"; significam o sopro, o espírito, não entravado.

Latim: a palavra salus significa tanto saúde como salvação.

Em português são também significa santo!

2.3.2 Uma pesquisa interessante:

Todos gostamos de nos relacionarmos com pessoas "boas", não é? Buscando encontrar a relação entre a saúde e a imagem que se tem do ser humano podemo-nos perguntar: o que é uma pessoa saudável? O que é uma pessoa "normal"?

Para responder temos de nos perguntarmos ainda: quais são as palavras que um ser humano fala quando entra em conflito com outro, quando o ofende e o agride? Se transformamos essas palavras negativas em positivas, teremos um retrato do que, intimamente, queremos do outro. O que nós desejaríamos do outro é que fosse: normal, sadio, inteligente, sábio, franco, claro, límpido, honesto limpo, dinâmico, generoso, desapegado, responsável, confiante, aberto, delicado, fraternal, corajoso, leal, estável, humilde, modesto, sublime, calmo, justo, imparcial, firme, altruísta, flexível, elevado, humano, magnânimo, simples, construtivo, criativo, pródigo, aberto, bom, piedoso, livre (sem apegos), capaz de perdoar, flexível e simultaneamente firme nas sua determinações, puro, imparcial, disciplinado nos seus pensamentos, etc. Isto parece mais o retrato dum santo...

Parece que todos nós temos a intuição de que quanto mais a pessoa se torna santa, tanto mais se torna saudável.

Os terapeutas há muito tempo que sabem que para que uma terapia seja bem sucedida é necessária uma "aliança terapêutica" entre ele e a parte sadia do seu cliente. Quando a parte sadia, isto é, o espírito do terapeuta, encontra a parte sadia do cliente, isto é, o espírito da pessoa, ocorre uma espécie de "clic". A mesma coisa ocorre nos grupos de terapia. São momentos privilegiados de comunicação sem barreiras de espírito a espírito. É como se o espírito do grupo fosse uno, todos começam a se amar. Os mais sensitivos e/ou espirituais sentem isso mais intensamente. É neste momento que podemos intervir terapeuticamente, porque há abertura, há amor; pode-se construir a santidade.

Cada vez que lançamos pontes sobre as fronteiras criadas artificialmente por nós, nasce o espírito. Cada um de nós tem momentos privilegiados em que lança também pontes sobre as próprias fronteiras interiores (entre a razão, a intuição, a sensação e o sentimento; entre o corpo, a psique e o espírito).

Os obstáculos principais para esta relação são a imaturidade e as máscaras. Estes aspectos devem ser trabalhados constantemente, sempre que for possível e oportuno.

Mais uma vez poderíamos concluir que saúde e santidade vão na mesma linha, são a mesma coisa.

2.4 QUE É UM SER HUMANO INTEIRO?

2.4.1 A luta histórica entre a cabeça e o coração; o corpo e o espírito:

Parece que o homem, querendo simplificar as coisas, as complica. Na Idade Média reprimia-se a ciência e a objectividade em nome de algo que, confusamente, se chamava Deus. Na Idade Moderna reprime-se a experiência sublime, da comunhão, do coração e do espírito por uma coisa que, confusamente também, chamamos ciência. Como lucidamente denuncia Jung, o espírito degenerou-se em intelecto. Saímos dum extremo e fomos para outro. In medio stat virtus, a virtude está no meio. É preciso desenvolver uma antropologia capaz de fazer jus à vastidão do ser humano.

Depois do século XVII, depois da epopeia do racionalismo científico (Galileu, Descartes, Bacom, Newton, Locke, Hobbes e outros) surge a disciplinaridade, ela gerou o especialista, esse ser exótico que todos somos, que sabe quase tudo de quase nada, dotado duma certa imbecilidade funcional, que se orgulha da unilateralidade de visão e de acção, que não sabe quem é ele, para que vive, para quem ele vive, quê é um ser humano…

Quando no século XVII, a ciência foi separada da religião, o conhecimento desvinculou-se da dimensão do amor, da compaixão e da solidariedade. Temos dois hemisférios cerebrais: o esquerdo, científico, tecnológico e filosófico; o direito, o da arte, da poesia, e da mística. A abordagem holística não é nem um hemisfério nem outro. É a superação dos dois. É o corpo caloso; o lugar onde ambos se conectam.

2.4.2 As correntes/revoluções da psicologia:

Vejamos também como a psicologia, essa ciência que tenta perceber e fazer perceber a alma/psique, tem ido descobrindo o que é um ser humano. A primeira e a segunda revolução em psicologia, freudiana e behaviorista, trouxeram as suas virtudes e contribuições dentro do paradigma clássico. A terceira e a quarta revolução, a humanista e a gestaltista, apontam já para nossa tendência à evolução, à auto-regulação, ao auto-controle, à plenitude; dizem que temos uma espécie de tropismo que aponta à saúde, o único que precisamos é dum terreno fértil... Está-se a desenvolver uma quinta força, provavelmente seja a transpessoal/transumana, a holística ou a sistémica… Todas elas tentam ser uma abordagem transdisciplinar, uma aliança entre as terapias modernas e as milenárias. Precisamos preservar as modernas porque são analíticas e têm a ver com o nosso hemisfério cerebral esquerdo; precisamos resgatar as perenes porque são sintéticas, derivadas da inteligência intuitiva e contemplativa, estas respaldam-se no hemisfério cerebral direito. A própria UNESCO tem pedido urgentemente a prática transdisciplinar e a abordagem holística (Veneza, 1986; Vancouver, 1989; Paris, 1991).

Não se trata de confundir, nem de misturar, ciência com espiritualidade. A ciência não precisa da espiritualidade e vice-versa. O homem precisa de ambas.

2.4.3 Os santos

Se quisermos saber o quê e o ser humano temos de pesquisar nas vidas dos homens e das mulheres que chegaram ao topo das suas próprias montanhas.

Convém-nos desenvolver um conceito mais abrangente do que comporta ser um ser humano. Parece que uma característica dos santos e das santas é terem sido homens e mulheres que "sintetizaram" as suas partes e os seus extremos; parece que foram pessoas que não só uniram, mas transcenderam a razão, a intuição, as sensações e os sentimentos…

"Num certo sentido apenas os santos são a humanidade"

(Abraham Maslow)

 

 

 

 

3. O NOSSO DEUS (PAI) TEM CARACTERÍSTICAS MATERNAIS

"Deus é Amor"

(Jo 4, 8. 16)

Convém aprofundarmos que a Vida consiste em conhecer progressivamente o nosso Deus… (Cfr. Jo 17, 3) Isto implica uma atitude de abertura para que as Pessoas de Deus e a sua Natureza nos "dêem surpresas", igual que os nossos amigos, no seu conhecimento; O Nosso Pai, o Deus do Amor Incondicional, tem muito que "revelar-nos" de Si…

Isto implica também para nós um caminho da conversão, como exigência imprescindível do amor/caridade. Uma caminhada de gradual libertação do pecado e escolha do bem nos valores éticos e no Evangelho…

O nosso mundo está submerso numa "crise de civilização". Há quem diga que a causa é termos construído uma civilização excessivamente racional, pragmática e "masculina"…

Talvez, neste momento, convém chamar a atenção, mais uma vez, sobre a opção preferencial pelos pobres e marginalizados e o empenho pela justiça e a paz. E quem mais marginalizado do que "a mulher" que é desrespeitada nos seus direitos? Parece também que para implementa a "civilização do amor" serão de grande ajuda os valores, que na nossas sociedade são atribuídos às mulheres do que aos varões, de paz, solidariedade, justiça, liberdade…

É urgente, pois, recuperarmos a dimensão do feminino. Em Seus e no homem, varão e mulher. Será isto parte da conversão que necessitamos?

3.1 DEUS PAI NAS SAGRADAS ESCRITURAS

É verdade que no AT se aplica a Deus o nome de Pai (Dt 32,6s; 2Sm 7,14; Sl 89,27; Eclo 51,10).

Jesus fala com frequência de " vosso Pai", "teu Pai", "vosso Pai do céu" e chama a Deus pelo nome de "Pai": quando anuncia o Reino de Deus (Mt 13,43; 20,23; 25,34; Lc 12,32); quando se refere à acção do Espírito (Mt 10,20), ao conhecimento de Cristo (Mt 16,17), à oração (Mt 18,19), à recompensa (Mt 6,1); quando insiste na Providência do Pai (Mt 6,26-32; 10,29; Lc 12,30). Cristo dá a Deus o nome de Pai (Mt 5,16.45.48; 7,21; 11,25; 24,36; Lc 10,22; Mc 13,32). Revela a Deus como seu próprio Pai (Mc 14,36; Mt 7,21; 11,27; 16,27; 26,39; Jo 2,16; Lc 2,49).

Para Paulo Deus é o "nosso Deus e Pai"(1Ts 3,13; 2Ts 2,16; 1Cor 1,3; 2Cor 1,2; Gl 1,3; 4,6; Ef 1,2; Cl 1,12s; Rm 8,15).

João penetra mais no sentido da paternidade divina ao dizer que o homem é "gerado por Deus"(Jo 2,16; 3,3).

Mas, seria, pelo menos, ingénuo pensarmos que Deus é pai num sentido antropomórfico… Sabemos que o único que tem corpo e, portanto, sexo é o Filho…

3.2 DEUS, NA SUA NATUREZA ÍNTIMA, ESTÁ ALÉM DOS NOSSOS CONCEITOS SEXUAIS

3.2.1 A imagem de Deus na Bíblia:

A Bíblia diz que no princípio "Deus disse: ‘façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança’… …criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou, varão e mulher os criou" (Gen 1, 26-27). Parece, por este texto e não só, que só quando somos masculino e feminino, somos sacramento de Deus... Parece que Deus é pois um Pai materno, uma Mãe paterna; Deus é Pai, Deus é Mãe...

Mas também, parece, o homem, através da sua história (que desde a pré-história até os nossos dias é predominantemente machista), disse: "façamos a Deus à nossa imagem, como nossa semelhança"… Parece que não temos criado um espaço onde possa ser visível o rosto materno de Deus. Mas, com isto, não é Deus que fica prejudicado, é a nossa experiência religiosa que fica mutilada, já que somos privados da dimensão feminina de Deus, do seu enternecimento, da sua misericórdia, das suas entranhas, da sua reconciliação… Ficamos sem o modelo para a nossa dimensão feminina…

Convinha-nos entender que Deus, nosso Pai, não é "Pai" num sentido "antropomórfico" da palavra, pois Ele não é um homem "masculino". A "realidade divina" de Deus, que é o absolutamente transcendente, é, segundo o texto da criação, "reflexa" mais plenamente quando olhamos às suas duas "imagens": Varão e mulher. Nos quais há uma igualdade radical (Gl 3, 28)… É neste sentido que podemos dizer que Deus tem características "femininas" tanto como "masculinas". Dito nas palavras do Papa do sorriso: "Deus é Pai, mas sobretudo Deus é Mãe" (João Paulo I)… Ou também podemos dizer que a presença do jeito de Deus Pai é jeito de Mãe…

3.2.2 Misericórdia – "hesed"

Na Bíblia usa-se a palavra misericórdia, "hesed" em hebraico, para designar todos os laços que ligam os membros duma comunidade: favor, benevolência, afecto, bondade... Y pode ser: De Deus como amor gratuito, especialmente para os pobres e pecadores; foi corporizada em Jesus Cristo; Pode ser do homem como culto a Deus…

Alguns exemplos da "hesed" de Deus:

3.2.3 "Ruah"

Também poderíamos tirar conclusões interessantes se vemos que no AT o Espírito Santo é designado com palavras que nas línguas médio-orientais e, portanto também no hebraico, são femininas, p.e. "ruah". É verdade que o género das palavras nem sempre reflectem o género dos objectos a que qualificam… Mas…

3.2.4 As mulheres santas da História

As mulheres santas da História da Salvação, e especialmente Maria –a nova Arca da Aliança (Lc 1, 28)-, onde Deus "pôs a sua tenda" (Lc) transluzem qualidades que não podem vir senão de Deus… O anjo disse a Maria: "O Senhor está contigo"… Maria é pois templo do Senhor, "epifania" do Senhor… Num momento da História da Salvação o Reino passa por uma mulher. (Interessantes reflexões também poderíamos tirar do facto de que a Nossa Senhora de Guadalupe, e algumas outra imagens, é uma "Virgem Grávida"…) A mulher está, mais do que o homem, ligada ao mistério da vida. Gera, acolhe, carrega primeiro no seu ventre e depois ao seu colo e nas suas costas...

Foram as mulheres que foram ao seu encontro na via sacra, que limparão o seu rosto, que estiveram ao pé da Cruz, que o enterrarão... Nunca o traíram...

Poderíamos fazer outra profunda reflexão e que, sendo a para nós ressurreição o evento máximo da história, foram as mulheres, não os homens, as testemunhas deste facto. São Bernardo diz que Maria Madalena foi Apóstola dos Apóstolos...

As mulheres da nossa história também transluzem qualidades "divinas"… São também "epifanias"… Elas têm uma peculiar experiência de Deus, da sua graça, do Espírito e de Cristo... Nós temos direito de ter uma experiência mais global de Deus, via feminino... Nós ajudará ter uma experiência mais global e mais completa de Deus...

Convém lembrarmo-nos que Maria é hoje também um arquétipo, não é apenas uma personagem importante do passado, é uma estrutura e uma imagem interior...

3.3 OS SERES HUMANOS E O SEU "ANIMUS" A SUA "ANIMA".

Jesus convida-nos para vivermos em plenitude: "Sede perfeitos como o meu Pai celeste…" Em que é que consiste a perfeição? Será que a perfeição depende da integralidade?

3.3.1 A biologia, a psicologia e os "roles"

A biologia e a psicologia tem vindo a descobrir que o ser humano não é, no que respeita ao género, "quimicamente puro"; só os bonecos são assim. Temos é "roles" assignados pela sociedade… São exteriores, são mais acidentais do que essenciais… E são diferentes segundo as diferentes culturas… De facto hoje parece que a sociedade está indo para formas de vida e relacionamento mais andróginas…

Não existem almas masculinas e almas femininas… O que existem são "almas humanas" com duas dimensões: masculina e feminina; com duas expressões do rosto de Deus. O convite poderia ser no sentido de transcender os limites que a sociedade impõe, na vivência das potencialidades que o Senhor nos Doou na nossa natureza…

Utilizando os dois hemisférios cerebrais é que podemos transcendê-los. E os transcendemos numa visão que supera a visão analítica e sintética.

3.3.2 Dimensão espiritual e "rol" feminino

Parece ser que a dimensão espiritual é exprimida mais facilmente acudindo ao "rol feminino":

Parece que o caminho para Deus passa pela re-descoberta do feminino em nós mesmos, quer se seja homem ou mulher. Esta união do masculino e do feminino deve dar-se primeiro dentro das nossas cabeças, pela união dos nossos dois hemisférios cerebrais.

Quando se fala de Deus com um só dos hemisférios cerebrais, tende-se a falar de mais, explicar demais ou, por outro lado, tende-se a calar e se extasiar. Se usamos os dois entramos no paradoxo da arte, da poesia, por isso os textos sagrados (de todas as culturas) são poéticos; porque falam e se calam simultaneamente; chegam até o limite do que a linguagem verbal pode expressar. (É, talvez, nesse sentido que podemos ler Sab 7, 21-8,1).

3.3.3 Os valores paterno/maternais e o amor social

"O pobre é um filho de Deus,

não podemos permitir violência ao filho de Deus"

(Gandhi)

Parece também que é bom "despertar" esses valores paterno/femininos para a prática da caridade e do serviço no amor social... Pois, a exemplo do Pai, o lugar da nossa presença se chama misericórdia e a estratégia que pode transforma-la em realidade é um amor "apaixonado"…

PARA REFLECTIRMOS – APROFUNDARMOS:

ORAÇÃO:

"Ó Deus, nos alegra sumamente saber que és nosso Pai, imensamente "maternal" e cheio de amor, dai-nos experimentar-Te como Pai e sentirmo-nos verdadeiramente Teus filhos queridos no Filho. Só então espancaremos todos os medos e, estando seguros em Tua e nossa Casa, trabalharemos pelos nossos irmãos, os teus filhos também...

Jesus, Filho do Pai e de Maria, ajuda-nos para sermos também filhos deles e os teus irmãos, para sentirmos que caminhas carinhosamente ao nosso lado...

Santo Espírito clama desde o nosso íntimo: "Abbá, Pai", dá-nos os sentimentos de Jesus e ajuda-nos a pedir o que não sabemos que nos convém…

Maria, nova arca da aliança, reveladora da ternura de Deus, Mãe de Jesus, Mãe do amor formoso, Mãe nossa, ajuda-nos a imitar-te nas tuas qualidades de amor a Deus e ao próximo, escuta e posta em prática da Palavra, capacidade de reflexão, disponibilidade e serviço... Ensina-nos e ajuda-nos afectuosamente a fazer o que o Teu Filho quer de nós…

Nós que queremos ser pessoas que anunciem, com a sua palavra e, sobretudo, com as suas obras o "ano de graça e da misericórdia do Senhor"… Vos pedimos a vossa ajuda para sermos fiéis a nossa vocação de amor…

Amém."

 

 

4. O AMOR É TERAPÊUTICO

"Eu não sou eu.

Eu sou alguém que caminha a meu lado.

Que permanece em silêncio quando estou falando.

Que perdoa e esquece quando estou irado, esbravejado.

Que segue sereno quando estou aflito, sofrendo.

E que estará de pé quando eu estiver morrendo.

Eu não sou eu.

Eu sou alguém que caminha ao meu lado."

(Jiménez)

"É o amor que une e conserva todas as virtudes que tornam o homem perfeito"

(S. Afonso Maria de Ligório)

O amor não é só um sentimento, é mais uma opção. É mais um compromisso de ajudar a outrem no seu desenvolvimento, de acompanhá-lo na sua caminhada rumo à sua plenitude. Parece que ninguém pode ser terapeuta se não amar. Ser terapeuta, ter um comportamento terapêutico, estar na cura de almas, quer dizer, ao seu cuidado, é acompanhar com ternura e cuidadosamente à pessoa nesta caminhada rumo a si mesma, rumo ao seu centro...

4.1 NOSSA TAREFA: APRENDER A AMAR

Nós temos uma especial tarefa deixada pelo nosso Mestre: "amarmo-nos uns aos outros... como cada um se ama a si mesmo…" amar, incluso, quando o ‘amor’ não brote espontaneamente do nosso íntimo, aos inimigos, aos que não são como nós, aos diferentes… De facto, já a primeira geração de cristãos descobriu que este é o sinal de que amamos Deus... "Ninguém pode dizer que ama Deus, a quem não vê, se não ama seu próximo, a quem vê…"

Se Deus nos pede é porque podemos… Deus confia mais em nós de que nós mesmos. Somos uma promessa ainda não cumprida… Nossa tarefa é chegarmos a ser o cientista, o filósofo, o artista, o hierofante da própria existência… é uma tarefa difícil mas apaixonante…

Sabemos já que não é possível saúde plena sem a dimensão essencial do ser humano, o espírito… Doutra forma estaríamos a fazer veterinária, e má veterinária… Ora bem, o essencial ao espírito é a arte de amar... Se houver uma "graduação" como seres humanos, esta seria o dia em que soubéssemos amar plena e incondicionalmente, o dia que víssemos as pessoas como Jesus as vê: Inocentes...

Por outro lado, amar é uma aprendizagem. Aprendemos através do encontro: do encontro com o próprio ser, com o ser do outro, com o ser da natureza, com o Mistério Inefável... Quer dizer que podemos aprender bem ou podemos aprender mal... Caso não tenhamos aprendido bem, também podemos desaprender e reaprender...

4.2 AS QUATRO FORMAS DE AMOR

Parecemos supor que, conforme crescemos e amadurecemos fisicamente, também devíamos evoluir psicologicamente e progredir espiritualmente. Nem sempre é assim, nem sempre maturação e desenvolvimento correm à par na vida... Maturação é mais um processo psicossomático que depende de mecanismos internos e pouco influenciáveis; enquanto que o desenvolvimento tem a ver mais com uma série de comportamentos que visam fazer dum indivíduo um membro adulto duma determinada cultura, portanto precisa de modelos de comportamento.

Alguns acham que a aprendizagem e a prática da arte de amar tem uma gradação, grandemente influenciados pela idade e o grau de desenvolvimento da personalidade, nem sempre e nem todos chegamos ao topo... Vejamos:

  1. Porneia: é a infância do amor. De porneia derivam pornografia e prostituição. É o amor do bebé que precisa mamar, comer e beber o outro. A humanidade é um grande bebé que está devorando os ecossistemas… A maioria dos seres humanos estão (estamos) nesta etapa…
  2. Eros: é a adolescência do amor. É o amor do encantamento. É quando se busca a própria felicidade; vá-se ao encontro do outro para buscar ser feliz com ele. Se não se atinge a felicidade a culpa é do outro. É buscar o outro para tapar as minhas lacunas.
  3. Mas a felicidade é uma irradiação natural quando somos inteiros, verdadeiros, plenos e totais…

  4. Philia: É o amor da troca, da parceria. Quando vamos ao encontro do outro para aprendermos a ser humanos, para aprendermos a amar com ele. É o amor dos companheiros, da sinergia. Philia é o máximo a que podemos chegar na arte de amar, enquanto seres humanos.
  5. Ágape: o amor incondicional, gratuito, transpessoal, divino... É um amor maior que o coração humano. Quando se ama em Ágape se traz à humanidade algo que estava além da humanidade.

PARA APROFUNDARMOS:

4.3 EXERCÍCIO – ORAÇÃO:

Recebendo amor de Maria e de José no presépio.

Olhando para ti através dos olhos de alguém que te ama.

 

5. CRISES NA VIDA SACERDOTAL

"Nós sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus,

dos que são eleitos segundo seus desígnios."

(Rm 8, 28)

Alice estava perdida "no país das Maravilhas" quando chega à bifurcação dum caminho pergunta ao coelho: ‘Para onde devo ir? Qual é o caminho que hei-de escolher?’. O coelho, levantando os ombros, respondeu-lhe tranquilamente: ‘Tudo depende de a onde queiras chegar!’…

5.1 PARA QUE ESTA REFLEXÃO SOBRE AS CRISES?

Algumas razões pelas quais vale a pena fazermos esta reflexão:

5.2 ALGUMAS QUESTÕES

Para começarmos poderíamos perguntar-nos:

5.3 QUÊ É UMA CRISE?

Existem diversas definições e/ou descrições do que é uma crise.

Parece que há uma conotação negativa desta palavra; por exemplo, os mass media utilizam-na como sinónimo de catástrofe, guerra ou beco.

Poderíamos dizer, sem entrar em muitos detalhes, que há una crises cada que já não se cabe no próprio molde. São famosas as crises da adolescência, as crises que convulsionaram aos jovens de vários lugares do mundo a finais dos 60's e princípios dos 70's, as crises "de amplo espectro" em que entraram grandes sectores da igreja depois do Concílio Vaticano II, etc. O que é que têm em comum entre elas todas estas crises tão diversas? Não é o denominador comum de já não poderem conter tanta riqueza nos recipientes anteriores?

Os chineses, pelo seu lado, têm uma maneira muito optimista (poderíamos dizer que realista) de considerá-la, segundo se nota na sua maneira de traduzir na escrita a ideia que dela têm; eles usam duas palavras cruzadas, oportunidade e risco, para expressar que, com ocasião duma crise pode-se ter uma ganância ou uma perda, de acordo à maneira como se a enfrente e maneje. Uma crise pode, pois, levar-nos a uma síntese. Uma crise pode fazer-nos crescer. O ser humano não é perfeito; é perfectível.

A todo ser humano, enquanto estiver vivo, vão-se-lhe apresentando diversas crises. Algumas são fruto do seu próprio desenvolvimento - físico, psicológico, social o espiritual ou social - outras pelas circunstâncias familiares e sociais que o envolvem. Podemos dizer, já que a vida é dinâmica, que também é crises constante, sobretudo, se se quer estar no processo de chegar a ser um ser humano cada vez más pleno.

E o que se diz de todo ser humano vale também para o sacerdote. Sabemos que se quer ver ao sacerdote como um ser acabado e perfeito, inclusive há pessoas a quem lhes molestam palavras como processo, crescimento o desenvolvimento. Mas também sabemos, na nossa própria vida podemos constatá-lo, que aquilo de que "a graça pressupõe a natureza" é uma grande verdade e que as crises formam parte da natureza humana. Talvez houvesse sido bom iniciar esta página com um silogismo do tipo: "Todo ser humano tem crises, o sacerdote é um ser humano, logo o sacerdote tem crises".

Contudo, sair duma crise nem sempre é fácil. Há quem compare o final duma crise ao momento em que um molusco deixa a sua carapaça que lhe ficava pequena, nesse momento fica vulnerável, frágil, sensível… é o preço do crescimento…

Tem havido diferentes estudos sobre as crises na vida do homem, desde os aspectos meramente físico-biológicos até os espirituais, vejamos só alguns exemplos do campo da psicologia:

Assim os diferentes estudos vão concentrando a sua atenção sobre um elemento novo e/ou não estudado previamente e, muitos deles, vão-nos proporcionando elementos para conhecer e compreender esta realidade múltipla que somos (como um diamante de muitas caras) e dão-nos preciosas sugestões para a compreensão do nosso processo vital cheio, muitas vezes, de arestas que necessitam polirem-se progressivamente. A passagem duma etapa a outra, nos diferentes aspectos, é quase sempre acompanhada de crise.

Podemos dizer que da maneira como manejemos cada crises, cada etapa de crescimento, e da solução final que lhe demos dependem muitas das características que logo transparecem no nosso trato aos outros - cordialidade ou angustia e crispação; abertura ou vontade de aparência; receptividade ou atitude defensiva (evitar esto, aquilo e mais aquilo); sensibilidade ou profissionalização nas relações - e que, no fundo, transparecem fora o que levamos dentro - realização ou frustração.

5.4 ANTES DA ORDENAÇÃO:

A formação intelectual

está intimamente ligada à formação humana e espiritual

e deve ter uma clara motivação pastoral

(Cf. PDV 51).

Para o momento da ordenação se supõem já superadas as crises das etapas anteriores. Supõem-se atingidos uma série de objectivos, uma série de conquistas… Vários documentos do Magistério pedem isto:

Se supõe, mas, infelizmente, nem sempre isto é verdade…

 

 

5.5 E DEPOIS DA ORDENAÇÃO?

A quem diga que as crises aparecem na ordem das promessas ou dos votos: primeiro a da castidade, depois a da pobreza e no fim a da obediência...

A igreja tem uma preocupação maternal, nota-se, sobretudo ultimamente, Pastores dabo bovis, por exemplo...

A vida sacerdotal, desde o início do ministério até a morte, está cheia de crises... Daí a necessidade constante de abertura e de ajuda nos momentos de crise. Daí a necessidade de termos um director/acompanhante espiritual e/ou um terapeuta.

O acompanhante espiritual, o terapeuta é alguém que acompanha outrem no momento de cruzar o rio de águas turbas e que o ajuda a chegar à outra margem. É o companheiro do caminho. É alguém que nos conduz a esse lugar do nosso interior onde estão as respostas. Alguém que, escutando as nossas angústias sem angústia, nos leva ao encontro de Quem pode acalmar as nossas tempestades…

A vida tem mudanças. Vivamo-las! Não fiquemos fechados, atolados no lamaçal... O importante é reconhecer onde estamos e onde queremos chegar...

5.6 AS ESTAÇÕES DA VIDA (Uma bela metáfora)

Perguntaram ao poeta Jorge Luís Borges:

"Você tem medo de morrer?"

Ele respondeu: "Não. Tenho medo é de não morrer".

PARA APROFUNDARMOS:

5.7 EXERCÍCIO - ORAÇÃO: Imaginar Jesus a calmar a tempestade, a Sua mão sobre nossas tempestades...

 

6. A ORAÇÃO:

"Se estás no sétimo céu e alguém bate a tua porta, desce à terra ,

porque a terra não está em oposição ao céu"

(Eckart)

"Se estás num êxtase e um pobre bate à tua porta para pedir remédio, deixa o Deus que tens no êxtase para encontrar o Deus que está no pobre, porque o Deus que encontras no pobre é mais seguro que o Deus que deixas no êxtase"

(Ruysbroek)

"Não é outra coisa oração mental, na minha opinião, que tratar de amizade, estando muitas vezes tratando a sós com quem sabemos que nos ama"

(Santa Teresa de Jesus, Livro da Vida)

Já existem muitos manuais de oração e também muita teologia sobre ela. Gostaria só sublinhar algumas ideias sobre:

Vamos reflectir qual é o papel da oração na nossa vocação sacerdotal e vamos praticar um meio de oração contemplativa...

Partamos dum facto. Onde há desejo de melhorar a quantidade e a qualidade do tempo dedicado à oração, há também tensão rumo ao crescimento espiritual... O problema é quando nos convencemos de que somos pessoas incapazes de prática e vida espiritual...

6.1 CHAMADOS PARA ESTARMOS COM ELE

Comecemos lendo calmamente Mc 3, 13-15…

Parece ser que a oração é intrínseca à vocação… entre os pontos mencionados na finalidade do chamamento, o primeiro é para estar com Ele…

"Os chamou... Para que estivessem com Ele…"

Chama para:

O chamamento à vida apostólica é um convite livre a uma relação mais íntima com Jesus Cristo.

O ser companheiro e amigo de Jesus destaca ainda mais quando olhamos o drama das oliveiras. Jesus estava angustiado, cheio de medo e tristeza. Podemos ler em Mc 14, 33-35 que o único que Jesus pediu aos seus amigos foi que ficassem velando e rezando ao seu lado. O senhor não precisava a espada de Pedro, precisava sim a sua amizade e companhia fiéis.

Uma relação pessoal profunda e cheia de amor com o Senhor é um factor determinante, é parte do chamado. Podemos ver em Jo 21, 15-17 como Jesus, antes de dar a missão de apascentar o rebanho, pergunta insistentemente se há uma relação afectiva e volitiva sólida: "Me amas? Me amas mais do que estes?".

Outra coisa importante também é notarmos que a oração não é simplesmente um instrumento de eficácia pastoral.

Já que aceitamos que a oração e a contemplação são, em si, um cumprimento do chamamento a estar com Cristo… Convém revisar a nossa escala de valores:

Neste campo não há receitas fixas... A igreja propõe algumas pistas... Temos de encontrar os nossos próprios caminhos...

6.2 CONDIÇÕES PARA ORAR

"Disse o Mestre:

- Quando você estava no ventre, estava em silêncio. Mas um dia nasceu e começou a falar, falar, falar, até o dia em que for sepultado, então, ficara, de novo, em silêncio.

Conquiste o silêncio que havia no ventre e haverá na sepultura e que mesmo agora sustenta este intervalo de barulho chamado vida.

Esse silêncio é a mais profunda essência."

6.2.1 O silêncio.

Por vezes queremos praticar certas experiências de oração sem darmo-nos tempo para nos apaziguarmos, para nos pacificarmos interiormente. Seria conveniente darmo-nos tempo para descobrir a nossa dimensão silenciosa e contemplativa.

O cúmulo de pensamentos nem sempre nos deixa espaço para fazer uma paragem…É neste sentido que precisamos encontrar silêncio dentro de nós mesmos. O silêncio ajuda, entre outras coisas, a:

Uma vez criardo o silêncio, ganho, conquistado, talvez com esforço, é bom saboreá-lo, usufruir esse pequeno/grande ‘bem’… Há silêncios, se o quisermos, que têm voz... Na simplicidade do encontro connosco, para nos ouvirmos, para nos ajudarmos a fortalecer a escolha do nosso próprio caminho... Para encontrarmo-nos com Deus, para deixá-l’O falar... É um obséquio d’Ele e, simultaneamente, uma tarefa nossa que temos de construir, manter, usar…

Ajuda, muitas vezes, fazermos um exercício de relaxamento, de respiração, com estratégia mental tipo "mantra" . Não precisamos destruir o ego e só abri-lo, torná-lo transparente, curá-lo e cuidá-lo. Isto pode ajudar ao ego a se abrir ao self.

As nossas práticas espirituais devem ajudar-nos a transformar-nos e transformar o mundo, não a desprezá-lo ou a olhá-lo de cima. Não é esmagando a lagarta que a ajudamos a tornar-se borboleta...

6.2.2 As falsas expectativas.

Temos de saber também o que é que e essencial na oração, temos de nos tirar alguns preconceitos. Os grandes místicos, como Santa Teresa D’Ávila ou São João da Cruz, combatem aquilo que a maioria considera com manifestação mística: as visões, as audições e os êxtases. As combatiam não por serem falsas, podem até ser verdadeiras, mas por serem acidentais. A substância é a busca da união com Deus. Para eles a mística é aquela de olhos abertos e das mãos operosas. Olhos abertos sobre as chagas humanas e disponibilidade para colaborar na solução dos problemas sociais e a falta de saúde pessoal. Se uma mística não se articula com a recta ordem, com a recta relação entre as pessoas, ela será só uma projecção de desejos doentios. O espírito só floresce onde ha recta medida. Uma mística que não incentiva essa rectidão não é mística, é mistificação.

6.3 A NOSSA TAREFA DE CRESCIMENTO CONSTANTE

Somos seres que nos debatemos entre o bem e o mal. As nossas práticas espirituais devem levar-nos à liberdade. E a liberdade nos faz seres responsáveis e, por isso mesmo, éticos. O homem tem naturalmente a capacidade de crescer, mas pode fechar-se, tem também uma capacidade sinistra de recusar-se a crescer, nisto consiste o pecado; individual ou estrutural. Nós podemos auto-destruir-nos e destruir o nosso entorno; podemos crucificar Jesus.

No cultivo da espiritualidade podemos encontrar a experiência pascal, o mistério da ressurreição que é o paradigma da paradoxal existência cristã. É no encontro com Deus que encontramos que nada acaba na cruz e na morte, mas na vida. A alternativa cristã não é vida ou morte; é vida ou ressurreição.

6.4 EXERCÍCIO DE ORAÇÃO CONTEMPLATIVA

Disse Jesus: "Vinde a Mim vós todos, que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para vossas almas. Pois meu jugo é suave e meu peso é leve"(Mt 11, 28-30).

PASSOS PARA NOS DISPONIBILIZARMOS À ORAÇÃO CONTEMPLATIVA:

Alguém disse que um anão pode enxergar mais longe do que um gigante… Desde que o anão esteja parado acima do gigante… Temos alguns "gigantes" na prática da oração; os grades místicos/as e santos/as. Têm-se realizado interessantes estudos e encontrado que, nas suas práticas de oração, eles usavam um esquema comum. Nós podemos aprender estes simples passos e, se calhar, enxergaremos mais longe… Nós podemos modelá-los. Sabemos que a melhor maneira de aprender alguma habilidade é modelá-la de alguém…

  1. Encontrar um lugar e um tempo adequado:

Recomenda-se também programar o tempo que se pretende permanecer nesta experiência e cuidar de não ser interrompido abruptamente no meio dela. P. e. convém desligar o telefone ou a campainha da porta, pedir para não ser chamados, etc.

  1. Adoptar uma posição adequada:

É importante saber, experimentar, notar, que a posição do corpo tem uma enorme influência na disposição mental e espiritual…

Há quem gosta, também, deitado, boca para cima, joelhos dobrados para aligeirar a coluna vertebral, as mãos sobre o peito ou o plexo solar, com uma "almofada" de uns três centímetros…

  1. Conseguir respirar profunda e ritmicamente…
  2. Ensaiar diferentes "profundidades" e encontrar uma adequada, quer dizer, cómoda, relaxante, igualando os "tempos" de inalar e exalar, pelo nariz…

  3. Usar uma estratégia mental:

É lindo aprendermos que, ao repetirmos a estratégia mental, todos os nossos pensamentos tomam o curso indicado por esse guia…

Permanecer assim o tempo desejado… Desfrutando esta experiência ao máximo…

Este é "o coração" da nossa oração…

  1. Fazer um acto de esperança. "Orientados ao futuro" pensar como é que será ter integrado, na nossa vida normal, no nosso dia-a-dia, aquilo que estamos a receber na oração… "Quando pedirdes imaginai que já o recebestes…"
  2. Pensarmos que a nossa vida será melhor depois deste experiência…

  3. Voltar espontaneamente, situando-se novamente no lugar, auditivamente, cinestésicamente, por fim visualmente… Movimentar-se um pouco...

Não é recomendável, não perece ajudar, voltar bruscamente. Portanto, não se aconselha o uso de alarmes para voltar…

 

"Olhai que Santo Agostinho diz que buscava a Deus em muitas partes

e veio encontrá-lo dentro de si.

Que não necessitava de asas para voar,

mas de pôr-se em solidão e contemplá-lo dentro de si."

(Santa Teresa de Jesus, Caminho de Perfeição)

 

 

7. JESUS, O TERAPEUTA

(Jesus o ministro da Saúde Plena – Física/psico-emocional/espiritual)

Cura que na vizinhança vives com desenvoltura,

para que te chamam cura

se és a mesma enfermidade?

(Anónimo espanhol)

7.1 EM QUE SENTIDO PODEMOS DIZER QUE JESUS ERA TERAPEUTA?

Iéshoua ben Iosseph, é o autêntico paradigma de realização plena para o ser humano, que marcou, com as suas palavras e o seu silêncio, com as suas obras e o seu sangue, os últimos dois milénios da humanidade.

É um facto que Jesus curava e é u facto que mandou aos seus apóstolos curar… A Igreja o compreendeu muito bem, ao longo da sua história tem vindo fundar lugares para o cuidado e a recuperação da saúde física, psicológica e espiritual…

Apontemos só algumas ideias sobre Jesus na sua condição de supremo arquétipo do Terapeuta em plenitude, na sua síntese entre Logos e Ágape, Sabedoria e Amor.

Nos tempos do Senhor havia outros terapeutas, parece que eram pessoas que curavam por meios espirituais, provavelmente desenvolviam um contacto íntimo com o doente, incentivando e facilitando o seu próprio poder de cura, através de uma atitude de abertura existencial. O próprio Jesus perguntou numa ocasião: "Com o poder de quem curam os vossos filhos?" ( ).

Em primeiro lugar umas considerações sobre a palavra terapeuta. Esta palavra que chegou até nós da língua grega. Mas, segundo alguns, vem do hebraico. Nesta língua existe a palavra Teraf, usada para designar a acção de curar, significa "desatar nós". A relação entre terapia e Teraf parece evidente.

A terapia, em sentido semítico, pois, é desatar nós, libertar, pôr em marcha, dar abertura... Jesus apelava a isto quando despertava a "utopia" do reino no interior das pessoas: "A tua fé te curou..." acreditava na força curativa da fé, da esperança e do amor no interior das pessoas. Hoje os cientistas sabem que estas atitudes curam.

A nossa mente foi criada por Deus com grandes poderes, que podem ser usados para o bem ou para o mal. Através dela podemos ver-nos como sujeito e como objecto, podermos criar uma dualidade. O grade desafio, a grande terapia é integrar os dois, já que fazem parte da mesma realidade. Jung falou da experiência religiosa como a integradora da personalidade... Ele falava também do inconsciente colectivo, De algum modo podemos dizer que o inconsciente colectivo e os seus grandes mitos e utopias são os sonhos de Deus dentro da humanidade…

A grandeza de Jesus está na sua pessoa, no sonho que nos revelou… Este era e é o sonho da humanidade… O seu sonho era o reino de Deus com o seu lado místico e o seu lado político. Jesus intervém para reconciliar tudo: cada ser humano consigo mesmo e com os outros em fraternidade; com a natureza; e com Deus, mostrando-O como o Pai Maternal de todos...

7.1.1. Um terapeuta do corpo e com o seu corpo:

Jesus cuidava do corpo das pessoas, tocava-as, impunha-lhes as mãos… Pede aos seus discípulos que imponham as mãos sobre os doentes…

Jesus cuidava aos doentes através da sua saliva…

Jesus cuidava aos doentes através de mergulhá-los nas águas. (Por acaso a palavra baptisma, em grego, significa mergulhar na água)... A água purifica e limpa o corpo…

Parece que Jesus cuidava aos doentes, também, através das lágrimas, d’Ele e deles… As lágrimas são a água interior que purifica o espírito… Têm uma função de purificação e de limpeza… "Jesus chorou… " ( )

Quando Jesus encontrava alguém com o coração fechado pelo medo, pela recusa, pela ambição, com o coração de pedra, Ele convidava-o a liquefazer o seu coração no amor…

7.1.2 Um terapeuta da alma, da psique:

Ele transformava às pessoas em seres capazes de amor e de perdão.

Esta é a função do terapeuta: diante de alguém que está fechado nas suas memórias e, portanto, paralisado, é preciso recolocá-lo em marcha na direcção da vida… O homem é um ser teleológico, mas, por vezes, perde o rumo…

Parece que em hebraico a palavra bem-aventurado pode significar também "Em Marcha"… Então poderíamos ler assim o texto de Mt 5, 3-12:

Parece que o ensinamento de Cristo é um convite à caminhada, a permanecer aberto, mesmo estando doente ou caído. Trata-se de abrir a nossa capacidade de ir mais longe, de transcender…

7.1.3 Jesus um terapeuta do espírito:

Quando ensina a orar aos seus discípulos. Quando ensina que orar não e só recitar preces, mas estabelecer uma relação íntima, de filiação/paternidade, com Deus.

Hoje sabe-se que muitas doenças ocorrem porque o homem se sente cortado da sua fonte vital, que é o seu Criador. Sabe-se também que uma experiência de re-ligação pode curar, muitas vezes não só o espírito, também a mente e, frequentemente o corpo.

O importante e saber, e experimentar, que Jesus era, e continua a ser, Terapeuta.

PARA REFLECTIRMOS - APROFUNDARMOS:

EXERCÍCIO: ORAÇÃO – IMAGINAÇÃO:

Jesus cura diversos doentes… entre eles eu… 1ª, 2ª e 3ª posição…

 

 

8. O PERDÃO

(dando e recebendo o perdão)

"Mesmo na raiva, não pequeis. Não se ponha o sol sobre vosso ressentimento."

(Ef 4, 26-27)

"Perdoai-nos assim como nós perdoamos"

"Perdoar até setenta vezes sete…"

"Certa vez, o Mestre contou o caso de uma mulher que apresentou queixa à polícia por ter sido violada.

O caso ficou mais sério quando o Mestre acrescentou:

8.1 PERDOAR

Ao longo da nossa vida encontramo-nos inevitavelmente com situações que não correspondem com o que nós esperávamos. Estes acontecimentos que lesam as nossas expectativas podem causar-nos profundas feridas, paralisar dolorosamente a nossa vida, afectar a nossa tranquilidade pessoal, as nossas relações e a nossa vida espiritual… Ou podem ser para nós oportunidades para mudarmos e crescermos continuamente.

8.1.1 Quê significa perdoar?

O que é que significa perdoar em diferentes idiomas? As línguas são interessantes pois representam, nas palavras cunhadas através dos séculos, concretizações de ideias e conceitos muito complexos, fruto de profundas experiências dos indivíduos que compuseram e compõem o povo. Vejamos, além da etimologia, alguns exemplos do que para alguns povos significa Perdoar e perdão:

Para os povos latinos (e anglo-saxones): Parece que o ‘perdão’ está relacionado intimamente com a experiência de doar e de amar. Assim ‘Per/doar’ = voltar a doar ou, melhor, voltar a se doar. Em Inglês: forgive, para dar, parece expressar uma condição para voltar a dar, a se dar. E, dado que o acto de oferecer é uma expressão de amor, podemos perceber o perdão como voltar a amar, deixando o passado, as suas feridas e as suas interpretações, de tal modo que as pessoas entram numa nova relação onde podem se dar mutuamente.

Para os povos banto: Ao menos um exemplo. Em umbundo existe o verbo Okwetchela, deixar/largar, e a expressão n’guetchele, deixa-me/larga-me, que podem ser usadas também para exprimir o acto de perdoar e para pedir desculpas, respectivamente. Provavelmente os mais velhos perceberam que não perdoar é como trazer ‘agarrado’ o outro, é não ter a liberdade de deixá-lo livre.

Partindo destes exemplos, perdoar significaria, ser capaz de amar novamente a alguém, voltar a se doar novamente, deixando de identificar à pessoa com as consequências negativas dos seus actos. Perdoar seria uma libertação, própria e alheia.

Perdoar significa não só compreender que com sentimentos e atitudes como a ira, a raiva, o rancor, o ódio, estamos a desperdiçar e a ‘queimar’ energias valiosas em não deixar que ‘escape’ o nosso inimigo... Mas, canalizar as nossas forças e comportamentos para uma nova identidade/missão e atitudes mais positivas.

Perdoar não significa justificar nem concordar com os comportamentos inaceitáveis dos outros, tão-pouco implica que não tomemos medidas para mudar a situação ou proteger os nossos direitos. Perdoar não exige necessariamente que tenhamos que nos comunicar directa e verbalmente com a pessoas que nos danou, nem que nos tenhamos de re-ligar com ela, especialmente se já está fora da nossa vida actual ou se já morreu.

Perdoar implica reconhecermos que sob o comportamento insensível de alguém estão implícitas atitudes de desamparo, insegurança, necessidade de aprovação, medo, pedidos de respeito, amor e reconhecimento. Uma pessoa emocionalmente sã, não busca agredir, dominar, obstruir o trato nem danar física ou moralmente ninguém. Isto só é feito por quem se sente descontrolado, desvalido, impotente, com inveja ou medroso… É desde esta perspectiva, desde este ver o outro como limitado e necessitado que Jesus foi capaz de ver a inocência dos seus carrascos: "Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem!" (Lc 23, 34).

Perdoar também implica um processo que nos pede mudar a nossa percepção uma e outra vez. Ao mudarmos a nossa perspectiva reduzida por uma visão mais ampla surge uma maior disposição à compreensão, compaixão respeito por si mesmo e pelos outros. O perdão está em como percebemos e as conclusões a que chegamos sobre as pessoas e as circunstâncias da vida.

Perdoar é coisa boa… Convém…

8.1.2 Como sabermos que ainda não perdoamos?

Quando falamos em perdão, muitas vezes pensamos que só temos de perdoar às outras pessoas, mas também temos muito a perdoar-nos a nós mesmos, à vida, ao mundo e, até, a Deus… Dizem que as pessoas normais têm 40 itens que precisam ser perdoados em cada uma destas linhas… Mas, como sabermos quando ainda não perdoamos?

8.1.3 Porque é que não perdoamos?

No entanto, poderíamos ainda subir de nível e pensarmos que acima das crenças está a identidade. E a nossa missão deve ser de Agentes do Amor, portanto, do perdão... E a nossa espiritualidade, o contacto com mais Alguém que me capacita para um contacto cheio de Vida e Amor para os outros, o mundo, eu mesmo e a minha história de vida…

8.1.4 Perdoar implica um Processo

Parece que uma ofensa dói porque mata uma parte nossa. O auto-conceito, a estima própria, a imagem de alguém que eu tinha idealizado, os meus planos de futuro, etc.. é especialmente dolorosa quando a pessoa que nos faz mal:

De alguma maneira, uma ofensa é interpretada como perda e, da mesma forma, uma perda é percebida como uma ofensa.

Portanto, perdoar implica um processo semelhante ao que temos de fazer perante uma perda importante ou a morte dum ente querido. Não basta querer ou ter a intenção de perdoar, como não basta querer estar resignados e felizes no momento forte da separação de aquilo o de aquele/la que amávamos.

Convém, então, falarmos, um pouco, do "padrão de luto", essa série de passos que necessitamos dar para construir uma nova personalidade depois duma perda:

  1. Negação,
  2. Agressividade contra o/s outro/s,
  3. Agressividade contra si mesmo – depressão,
  4. Aceitação.

É verdade que as perdas são pequenas ou grandes mortes, mas, depois da ressurreição de Jesus, sabemos que a morte pode acabar em vida melhor. A ressurreição pode dar outro sentido à existência, à dor de perder e ao mal na nossa vida. Nada acaba no sepulcro. A última palavra não é morte e corrupção. A alternativa é a vida plena, a revivificação, a ressurreição. Portanto, nada deveria ficar no rancor e na paralisia, mas na liberdade de crescer continuamente…

Quê precisamos para entrar neste processo?

Para que é que nos serve perdoar?

PARA APROFUNDARMOS

Identifica as qualidades que devia ter a outra pessoa para satisfazer as tuas expectativas;

Identifica alguém que sim possua estas qualidades e permite, na tua imaginação, que as manifeste para ti.

8.2 ACTO DE RECONCILIAÇÃO

Alguns textos bíblicos podem ajudar-nos a "mergulhar" neste vasto oceano de amor/perdão: Parábola do Pai Misericordioso (Lc 15, 11-32); A eterna luta dos filhos de Eva com a serpente e a eterna esperança no Filho que a esmagará definitivamente (Gén 3, 14-15); O bom Samaritano (Lc 10, 25-37); Algumas recomendações para a vida comunitária (1 Pe 3, 8-11); Algumas recomendações para a vida familiar (Ef 5, 21-6, 1); O ‘sonho’ de Jesus (Mt 5, 2-10).

Depois de reflectirmos em tudo isto estamos em disposição de pedir, dar e receber perdão... Para voltar a nos doar mutuamente a nós mesmos, aos outros, à vida, ao mundo, a Deus…

Dizem que perguntaram a um rabino: "o que é ser um eleito? O que quer dizer ser um escolhido?" Ele respondeu: "Não se é escolhido jamais por si mesmo, pelas suas qualidades. Nós somos escolhidos pelos outros. Por exemplo, talvez, se Deus escolheu Israel é porque ele fosse o povo menos espiritual da terra – o mais carnal, o mais interesseiro, o mais comerciante – . E se Deus nos amou, a nós, tem muitos mais motivos para amar os outros. Nós fomos eleitos para mostrar que todos são eleitos, já que nós, da maneira que somos, fomos eleitos."

Nesta altura da experiência (ou da leitura) recomendaria a realização de um acto penitencial, para ter a possibilidade de se confessar sacramentalmente, de se encontrar com a misericórdia do Senhor.

8.3 EXERCÍCIO: ROMPER COM A IDOLATRIA

Este exercício parte dalgumas ideias muito simples:

Há muitas coisas que Deus disse e diz sobre nós, especialmente através da sua Palavra feita carne. A novidade que Jesus nos trouxe é que todos, cada um, por mínimo que seja, é filho ou filha de Deus, é do seu povo, é da sua família…

O problema é que muitas vezes nós damos mais importância à opinião dos outros sobre nós, do que à opinião que Deus tem de nós… Isso é converter os outros em ídolos; damos mais importância às opiniões negativas de algumas pessoas ou de uma parte de nós mesmos, muito dura, que nos julga mal do que à opinião positiva de Deus sobre nós…

Obviamente ninguém pensa tão bem de nós como o próprio Deus. Ele pensa melhor de nós do que nós mesmos e do que as pessoas que mais nos amam. Ele acha que nós somos, fundamental e essencialmente:

Por isso convém-nos confrontarmos as duas opiniões: a dos que, por serem limitados, nos ofenderam e a do nosso Bom Deus, nosso Pai/Mãe…

 

 

 

 

 

9. REVISÃO DAS NOSSAS CRENÇAS MAIS IMPORTANTES

Encontrarás a seguir algumas descrições fundamentais ao respeito do teu próprio eu, das outras pessoas, da vida, do mundo e de Deus. É importante avaliares todas estas áreas. Quanto às nossas percepções, nem tudo o que parece é verdadeiro. Quando temos pouca satisfação ou emoções negativas precisamos de revisão e, por vezes, terapia ou conselho…

Vejamos alguns exemplos de distorções muito comuns, que parecem verdadeiras mais não o são, são limitantes:

Ser-te-ia de muita ajuda saberes quais são as tuas próprias distorções predominantes na percepção de ti mesmo, na maneira como captas aos outros, na visão que tens da vida, o que pensas do mundo e qual é a tua visão de Deus.

O exercício das páginas seguintes pode ajudar-te a te tornares ciente das várias dimensões da tua visão da realidade. Trata-se de julgar as tuas crenças. Por exemplo, se aparecer:

Eu sou bom

Eu sou mau

A

B

C

D

E

Se eu me considerasse totalmente Bom marcaria com um X no A; se eu me considerasse totalmente mau marcaria no E; mas, se me vejo mais como bom do que como mau então marco o B; se me vejo mais mau do que bom então marco o D; se nem bom nem mau então o C.

Depois de considerar calmamente cada alternativa, marca as respostas de acordo com a tua escolha. Acima de tudo sê honesto! Não marques o que deverias, poderias ou gostarias de pensar, mas o que realmente pensas em todos os itens. Boa sorte!

9.1 QUEM SOU EU

 

A

B

C

D

E

1

Bom

Mau

+

+

+

+

+

2

Sensível

Insensível

+

+

+

+

+

3

Generoso

Egoísta

+

+

+

+

+

4

Responsável

Irresponsável

+

+

+

+

+

5

Trabalhador

Indolente

+

+

+

+

+

6

Decidido

Indeciso

+

+

+

+

+

7

Autêntico

Falso

+

+

+

+

+

8

Envolvido em questões sociais

Alienado

+

+

+

+

+

9

Interessado pelos outros

Interessado só em mim

+

+

+

+

+

10

Leal

Desleal

+

+

+

+

+

11

Bem dotado

Sem talento

+

+

+

+

+

12

Superior à maioria das pessoas

Inferior

+

+

+

+

+

13

Inteligente

Pouco inteligente

+

+

+

+

+

14

De muito potencial

De pouco potencial

+

+

+

+

+

15

Com controle da vida

Sem controle da vida

+

+

+

+

+

16

De boa aparência

Feio

+

+

+

+

+

17

Amável

Não amável

+

+

+

+

+

18

De maneiras agradáveis

De maneiras desagradáveis

+

+

+

+

+

19

Grato

Ingrato

+

+

+

+

+

20

Caloroso

Frio

+

+

+

+

+

21

Profundo

Superficial

+

+

+

+

+

 

 

 

22

Interessante

Desinteressante

+

+

+

+

+

23

Activo

Passivo

+

+

+

+

+

24

Coerente

Incoerente

+

+

+

+

+

25

Independente

Dependente

+

+

+

+

+

26

Importante para os outros

Sem importância

+

+

+

+

+

27

Necessário

Desnecessário

+

+

+

+

+

28

Amado por muitos

Amado por poucos

+

+

+

+

+

29

Apoiado por muitas pessoas

Apoiado por poucas

+

+

+

+

+

30

O meu amor é desejado por muitos

Desejado por poucos

+

+

+

+

+

31

Valorizado por muitos

Valorizado por poucos

+

+

+

+

+

32

Valorizado por mim

Pouco valorizado

+

+

+

+

+

33

Acrescento muito aos grupos

Acrescento pouco

+

+

+

+

+

34

Dou muita alegria aos outros

Dou pouca alegria

+

+

+

+

+

35

Cooperativo

Não cooperativo

+

+

+

+

+

Depois de responderes tudo, une todos os Xs com linhas rectas. Para ajudar a fazer um gráfico, podes sombrear um dos lados. Lembra-te de que a finalidade deste exercício não é o diagnóstico. No entanto, é provável que quanto menor seja a área da esquerda, mais saudável sejam as tuas crenças.

Por outro lado, esta prática dá-te a oportunidade de saberes algumas das tuas crenças que te conviria mudar.

Podes fazer igual com as partes seguintes.

 

9.2 QUEM SÃO AS OUTRAS PESSOAS?

 

A

B

C

D

E

36

Essencialmente boas

Más

+

+

+

+

+

37

Amigáveis

Hostis

+

+

+

+

+

38

Confiáveis

Não confiáveis

+

+

+

+

+

39

Disponíveis para me ajudar

Não disponíveis

+

+

+

+

+

40

Amorosas

Egocêntricas

+

+

+

+

+

41

Generosas

Gananciosas

+

+

+

+

+

42

Preocupadas com os outros

Preocupadas só consigo mesmas

+

+

+

+

+

43

Honestas

Desonestas

+

+

+

+

+

44

Sensíveis

Insensíveis

+

+

+

+

+

45

Leais

Desleais

+

+

+

+

+

46

Gratas

Ingratas

+

+

+

+

+

47

Semelhantes a mim

Diferentes

+

+

+

+

+

48

Responsáveis

Irresponsáveis

+

+

+

+

+

49

Calorosas

Frias

+

+

+

+

+

50

Dignas de amor

Indignas de amor

+

+

+

+

+

51

Cooperantes

Não cooperantes

+

+

+

+

+

52

Colaboradores

Competitivos

+

+

+

+

+

53

Equilibradas

Desequilibradas

+

+

+

+

+

54

Sofredoras e carentes

Nem sofredoras nem carentes

+

+

+

+

+

 

55

Autênticas

Falsas

+

+

+

+

+

 

9.3 O QUE É A VIDA?

 E

56

Uma experiência agradável

Uma luta

+

+

+

+

+

57

Importante

Não importa

+

+

+

+

+

58

Bonita

Feia

+

+

+

+

+

59

Uma aventura

Um teste de resistência

+

+

+

+

+

60

Uma aprendizagem

Uma desilusão

+

+

+

+

+

61

Satisfatória

Insatisfatória

+

+

+

+

+

62

Um desafio

Uma frustração

+

+

+

+

+

 

63

Cheia de significado

Sem sentido

+

+

+

+

+

64

Muito curta

Muito longa

+

+

+

+

+

65

Excitante

Enfadonha

+

+

+

+

+

66

Uma oportunidade de crescimento

Sobrevivência

+

+

+

+

+

67

Em mudança permanente

Repetitiva

+

+

+

+

+

68

Um tempo para dar

Para se receber

+

+

+

+

+

69

Não gostaria de a perder

Pesaroso por ter que vivê-la

+

+

+

+

+

70

O dinheiro não tem muita importância

É quase tudo

+

+

+

+

+

71

Os amanhãs são bem-vindos

Temidos

+

+

+

+

+

72

O tempo é precioso

Sem valor

+

+

+

+

+

73

A velhice é um período de amadurecimento

Um período deprimente

+

+

+

+

+

74

O sofrimento pode levar ao crescimento

Um mal a ser evitado

+

+

+

+

+

75

A morte é um começo

Uma tragédia

+

+

+

+

+

 

9.4 O QUE É O MUNDO FÍSICO?

 

A

B

C

D

E

76

A natureza é linda

Nada de especial

+

+

+

+

+

77

O mundo físico é importante

Sem importância

+

+

+

+

+

78

É fascinante

Insípido

+

+

+

+

+

79

Tenho muito interesse em geografia e geologia

Nenhum interesse

+

+

+

+

+

80

Os animais domésticos são agradáveis

Incómodos

+

+

+

+

+

81

Adoro jardins

Nunca prestei atenção

+

+

+

+

+

82

Tenho muito interesse em passatempos ligados à natureza

Nenhum interesse

+

+

+

+

+

83

O sistema solar é instigante

Irrelevante

+

+

+

+

+

84

A arqueologia é excitante

Nada significa para mim

+

+

+

+

+

85

Algumas cenas naturais são especiais

Não têm qualquer significado

+

+

+

+

+

86

A ecologia é uma preocupação para mim

Não me desperta interesse

+

+

+

+

+

87

O reino animal é interessante

Irrelevante

+

+

+

+

+

88

As estrelas são deslumbrantes

Raramente as vejo

+

+

+

+

+

89

Caminhar na natureza é delicioso

Aborrecido e enfadonho

+

+

+

+

+

90

As estações são lindas

Maçadoras

+

+

+

+

+

 

 

9.5 QUEM É DEUS?

 

A

B

C

D

E

91

Um Pai maternal

Um mestre tirano

+

+

+

+

+

92

Ama incondicionalmente

Ama condicionalmente

+

+

+

+

+

93

Perdoa

Irado e impiedoso

+

+

+

+

+

94

Interessado em mim

Nada interessado

+

+

+

+

+

95

Próximo e íntimo

Distante e desligado

+

+

+

+

+

96

Tranquilizador

Amedrontador

+

+

+

+

+

97

Reconfortador

Perturbador

+

+

+

+

+

98

Caloroso

Frio

+

+

+

+

+

99

Compreensivo

Intolerante

+

+

+

+

+

100

Protector

Ameaçador

+

+

+

+

+

 

 

 

 

 

10. PROJECTO DE VIDA

(Especificação De Objectivos):

"Bem-aventurados aqueles que ousam sonhar,

porque serão os únicos que verão os seus sonhos realizarem-se"

(D. Hélder Câmara)

"Há duas tragédias na vida. Uma é não conseguir aquilo que deseja muito.

A outra é consegui-lo"

(George Bernard Shaw)

"Esteja atento onde põe o seu coração, pode consegui-lo"

(Provérbio árabe)

Actualmente programa-se tudo, menos a vida. Programam-se actividades profissionais, culturais, institucionais. Multiplicam-se os cursos de requalificação e formação permanente, os congressos, os estágios e reciclagens nas diferentes carreiras, profissões e ofícios... Mas, quanto à dificílima tarefa de viver satisfazemo-nos com a improvisação ou a força do hábito...

Nós, como cristãos e sacerdotes, temos de ser pessoas que, como poucas, sejamos capazes de deixar sulcos profundos nos caminhos por onde passarmos; trilhos que outros possam seguir; atalhos para chegar mais rapidamente ao destino final… Mas, como? Isto precisa ser planeado?

Fazer objectivos é especificar a nossa missão em termos concretos, é programar a nossa santidade e caminhada de conversão de maneira avaliável.

PARA APROFUNDARMOS:

10.1 ORIENTAÇÃO AO FUTURO

PASSADO è PRESENTE è FUTURO

Parece ser que a diferença entre as pessoas de êxito, especialmente os santos, e os outros, radica fundamentalmente na sua orientação na vida: para o passado ou para o futuro... As pessoas que triunfam estão viradas para o futuro, e, por vezes, um futuro muito distante e que ultrapassa largamente os limites da sua própria vida no espaço e no tempo. Que melhor exemplo que o próprio Jesus de Nazaré, que na oração das oliveiras (Jo 17) pedia por aqueles que continuariam a sua obra através dos séculos?

As pessoas de sucesso gostam de desafios; essa rara mistura de sonhos e de certezas… Parece que para uma pessoa ter sucesso na vida deve possuir:

O papa João Paulo II, p. e., na sua carta apostólica Novo Millenio Ineunte, convida-nos a não ficarmos no passado: "as experiências vividas devem suscitar em nós um dinamismo novo, que nos leve a investir em iniciativas concretas" e acrescenta: "tudo o que nos propusermos, esteja profundamente radicado na contemplação e na oração" (NMI 15).

10.2 É POSSÍVEL! (Diário de Gratidão)

"Bendiz, ó minha alma, ao Senhor,

e não esqueças nenhum dos seus benefícios"

(Sal 103, 2)

Haverá que perceber o presente não só como cais de chegada, mas também de partida; como ponte entre passado e futuro; como ponto de arranque dum novo caminho…

Depois de analisarmos o nosso estado presente, é bom idealizarmos o estado futuro (estado desejado). Haverá, sem dúvida, uma diferença, e um caminho a percorrer.

Ora bem, parece que para fazermos objectivos necessitamos sempre desenvolver a virtude e a atitude de esperança. Esta é formada na confiança de saber que é possível atingir o que desejamos. Por isso é importante fazermos um amplo relatório (escrito) de:

Depois de escreveres este ‘Diário de Gratidão’ podes perguntar-te: O que é que eu posso construir com tudo isto?

E a seguir, virado rumo ao futuro, te convém perguntar-te conscientemente:

10.3 PARA UMA BOA CONFORMAÇÃO DE OBJECTIVOS

"O que não se faz consciente manifesta-se nas nossas vidas como destino"

(C. G. Jung)

Nem todos os objectivos que temos na vida se cumprem, mesmo que os desejemos veementemente. Porquê? Muitas vezes porque não estão bem especificados. Eis um pequeno guia prático para assegurar o feliz desenlace de aquilo que queres:

  1. Descreve o desenlace em termos afirmativos. Descreve o que queres, não o que não queres;
  2. Sê concreto e descreve o resultado com uma descrição em termos sensorias – pô-lo com todos os pormenores possíveis em todos os sentidos possíveis - vista, ouvido, olfacto, tacto e paladar. O que é quero ver, ouvir ou sentir com este objectivo?
  3. Prevê um procedimento de verificação. Como saberei que já consegui o que queria? Quê verei, ouvirei, cheirarei, sentirei ou saborearei, tanto dentro de mim como no mundo exterior, quando atingir concretamente este objectivo? Com quem e quando vou confrontar a minha caminhada? Aqui entra o labor do director espiritual e/ou do psicoterapeuta ou conselheiro.
  4. Assegura-te de que o desenlace escolhido seja iniciado e desenvolvido, até o fim, por ti.
  5. Comprova se o teu desenlace é ecologicamente sensato e conveniente. Qual é o impacto, tanto do processo como do desenlace, na minha vida? Quero pagar o custo?

O que fazer depois de teres uma lista de objectivos bem conformados? Eis umas sugestões:

Recomenda-se também fazer uma avaliação periódica da posta em prática dos nossos objectivos. Cada seis meses ou cada ano, podemo-nos dar uns dias para, calmamente, rever:

Fazendo isto com regularidade temos a sensação de estarmos a conduzir a nossa vida e não de sermos ‘empurrados’ por ela.

O importante é o futuro… Até à eternidade!

10.4 EXERCÍCIO: FUTUROS MOTIVANTES

 

 

 

CONCLUSÃO?

"Recebereis a força do Espírito Santo que descerá sobre vós,

e sereis minhas testemunhas… até os confins da terra."

(Act 1, 8)

"Eu estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!"

(Mt 28, 20)

Ficamos por aqui, contudo, não podemos concluir, temos de continuar a busca pessoal... Temos de aprender a transcender a própria vida, os próprios limites, o espaço e o tempo... Temos que desenvolver a união com Deus, no trato directo na oração e no encontro de qualidade com os irmãos e ao seu serviço, temos de crescer como agentes de comunhão, da espiritualidade de comunhão (Cfr. NMI 43-45)...

Temos estado neste retiro, ou temos acompanhado a leitura até este ponto, porque sabemos que o instrumento de trabalho que nós temos é a nossa vida, a nossa maneira de viver, o nosso estilo de vida.

Convinha-nos aprofundar mais, cada dia mais, qual é a nossa identidade como sacerdotes... Que metáfora exprime essa identidade/missão?

Convém-nos, para o nosso próprio proveito e o de aqueles a nós confiados, continuar nesta dinâmica de caminharmos no tempo:

PASSADO è PRESENTE è FUTURO

…é belo constatar que a nossa estrada tem um destino e tem pontes…

finalmente, depois de toda esta caminhada podemos fazer uma síntese olhando para o FUTURO… Podemos armar o quebra-cabeça de todo o "RETIRO"…

O RETIRO não é, não devia ser, só um evento. Mas uma parte importante do processo da nossa vida… Um trampolim para nos lançar ao FUTURO…

Dizem que uma grade mulher, talvez a maior terapeuta do séc. XX, Virgínia Satir, dizia quando se despedia de uma família ou de um grupo: "Agora vão e deixem nascer os seus bebés…", referia-se a aqueles desejos de mudança despertados durante o encontro. Nós também podemos deixar nascer as nossas sementes… elas frutificarão…

REFLEXÃO FINAL:

Se nós, pastores, queremos ajudar e, simultaneamente, ser ajudados, devemos entrar num processo de congruência, de coerência, de autenticidade…

Esta autenticidade transparente e real deve ser tal que:

Esta autenticidade transparente e real deve ser tal que:

Mas, esta autenticidade transparente e real não se manifestará só por acreditarmos nela, nem aparecerá por muitos retiros e/ou exercícios, por muitas leituras profundas e actualizadas, nem por cursos ou especialidades tirados. Só existe uma maneira: corrermos o risco de vivê-la. Convém lembrarmo-nos de que somos, simplesmente, seres humanos que, em relação com os seus irmãos e irmãs e ao seu serviço, queremos responder ao Senhor que nos chamou.

EXERCÍCIO FINAL:

"Criemos" três espaços no chão e "ancoremo-los":

è Esperança è Caridade

Fé: "eu acredito que o sol nasce cada dia…"

Esperança: "eu espero que o sol vai nascer amanhã…"

Caridade - Amor: "há muitas pessoas que me amam, Deus me ama, por isso eu sinto que mereço ver novamente a luz do sol amanhã, para poder amar…"

Aplicá-los às resoluções do retiro:

Fé: "eu acredito que a mudança e o crescimento constantes são possíveis… Há pessoas que o têm conseguido…"

Esperança: "eu espero que isso que tem sido possível para outros será também possível para mim…"

Caridade – Amor: "pelo amor que Deus e as pessoas que gostam de mim me têm, sinto que eu mereço estar nesse caminho de crescimento pessoal, rumo à santidade, para amar cada vez mais plenamente…"

"…se até uma palavra sobra se é a vida que está mudando,

muito mais que estarmos nós mudando nela."

 

SUMÁRIO

0 APRESENTAÇÃO

0.1 È ISTO UM RETIRO?

0.1.1 O que temos de pressupor

0.1.2 Formação humana - Introspecção

0.1.3 Metodologia

0.2 EXERCÍCIO: CÍRCULO DA EXCELÊNCIA (na "Linha do tempo")

INTRODUÇÃO

1 CONTEXTO MUNDIAL

2 CONTEXTO ANGOLANO

3 O RETIRO E A NOSSA ESPIRITUALIDADE (CRISTÃ E SACERDOTAL)

4 OBJECTIVOS

1. SEMEADOR (Mt 13, 4-8.18-23)

1.1 NÍVEIS NEUROLÓGICOS

1.2 SEMEADOR / NÍVEIS E OBSTÁCULOS

1.3 EXERCÍCIOS

2. SAÚDE TOTAL: INTEGRAÇÃO, CENTRALIDADE

2.1 DIMENSÕES DA SAÚDE (Razão, sensação, sentimento e intuição)

2.2 ESPIRITUALIDADE E SAÚDE

2.2.1 Conceitos antigo e moderno do Espírito

2.2.2 A espiritualidade

2.2.3. O cuidado e a ternura

2.3 QUE É SANIDADE? QUE É SANTIDADE?

2.3.1 Só um pouco de etimologia

2.3.2 Uma pesquisa interessante

2.4 QUE É UM SER HUMANO INTEIRO?

2.4.1 A luta histórica entre a cabeça e o coração; o corpo e o espírito

2.4.2 As correntes/revoluções da psicologia

2.4.3 Os Santos

3. O NOSSO DEUS (PAI) TEM CARACTERÍSTICAS MATERNAIS

3.1 DEUS PAI NAS SAGRADAS ESCRITURAS

3.2 DEUS, NA SUA NATUREZA ÍNTIMA, ESTÁ ALÉM DOS NOSSOS CONCEITOS SEXUAIS

3.2.1 A imagem de Deus na bíblia

3.2.2 Misericórdia, "hesed"

3.2.3 "Ruah"

3.2.4 As mulheres santas da história

3.3 OS SERES HUMANOS E O SEU "ANIMUS" A SUA "ANIMA".

3.3.1 A biologia, a psicologia e os "roles"

3.3.2 Dimensão espiritual e "rol feminino"

3.3.3 Os valores paterno/femininos e o amor social

4. O AMOR É TERAPÊUTICO

4.1 NOSSA TAREFA: APRENDER A AMAR

4.2 AS QUATRO FORMAS DE AMOR

5. CRISES NA VIDA SACERDOTAL

5.1 PARA QUE ESTA REFLEXÃO SOBRE AS CRISES?

5.2 ALGUMAS QUESTÕES

5.3 O QUE É QUE É UMA CRISE?

5.4 ANTES DA ORDENAÇÃO

5.5 E DEPOIS DA ORDENAÇÃO?

5.6 AS ESTAÇÕES DA VIDA (metáfora)

5.7 EXERCÍCIO: JESUS ACALMA A TEMPESTADE

6. A ORAÇÃO:

6.1 CONDIÇÕES PARA ORAR

6.2 CHAMADOS PARA ESTAR COM ELE

    1. A NOSSA TAREFA DE CRESCIMENTO CONSTANTE
    2. EXERCÍCIO DE ORAÇÃO CONTEMPLATIVA

7. JESUS, O TERAPEUTA

7.1 EM QUE SENTIDO PODEMOS DIZER QUE JESUS ERA TERAPEUTA?

7.1.1 Um terapeuta do corpo e com o seu corpo

7.1.2 Um terapeuta da alma, da psique

7.1.3 Jesus um terapeuta do espírito

8. O PERDÃO (Dando e recebendo perdão)

8.1 PERDOAR

8.1.1 Quê significa perdoar?

8.1.2 Como sabermos que ainda não perdoamos?

8.1.3 Porque é que não perdoamos?

8.1.4 Perdoar implica um processo

8.2 ACTO DE RECONCILIAÇÃO

8.3 EXERCÍCIO: ROMPER COM A IDOLATRIA

9. REVISÃO DAS NOSSAS CRENÇAS SOBRE AS NOSSAS CINCO CATEGORIAS MAIS IMPORTANTES.

9.1 QUEM SOU EU?

9.2 QUEM SÃO AS OUTRAS PESSOAS?

9.3 QUÊ É A VIDA?

9.4 QUÊ É O MUNDO FÍSICO?

9.5 QUEM É DEUS?

10. PROJECTO DE VIDA (Especificação De Objectivos):

10.1 ORIENTAÇÃO AO FUTURO

10.2 É POSSÍVEL! (Diário da gratidão)

    1. PARA UMA BOA CONFORMAÇÃO DE OBJECTIVOS
    2. EXERCÍCIO: FUTUROS MOTIVANTES

CONCLUSÃO?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

José de Jesús Suárez Arellano

Fundou, junto com alguns amigos e colaboradores, o "Centro de Salud Integral" (SI). Foi Instrutor nas áreas de Saúde e Enfoques de Psicoterapia Breve do CPBSI, em diversas cidades do seu país e assessorou organizações e empresas. É também membro da "World Health Community for the 21st Century".

Caixa Postal 231 – Telefone 244 / 061 / 20 405 – Telefax 061 / 30 140 – E-mail jesuarellano@hotmail.com ou arquidiocese.lubango@netangola.com

Lubango, Agosto de 2001.

 

 


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ultima revisão deste pagina 12 de Novembro 2001