O PROBLEMA DO ABUSO SEXUAL DE RELIGIOSAS AFRICANAS EM ÁFRICA E ROMA
Texto Confidencial Novembro 20, 1998
Relatório para "O Conselho das ‘16’ Marie McDonald, MSOLA
Esta contribuição refere-se principalmente a ÁFRICA e às irmãs, sacerdotes e bispos AFRICANOS. Não pelo problema ser exclusivamente Africano, mas porque o grupo que reuniu para preparar este encontro de hoje baseou-se principalmente em suas próprias experiências em África e as informações que lhes foram entregues pelos membros das suas próprias congregações e outras congregações – nomeadamente congregações Diocesanas de África. Sabemos que o problema existe em outras partes do mundo também.
Este relatório trata apenas uma realidade, bastante delicada, da Igreja em África. Nós sabemos bem e agradecemos imensamente o que foi e continua ser realizado pelo clero e religiosas que vivem em integridade uma vida frutuosa e evangélica.
Lembramos aqueles bispos, sacerdotes e religiosos em África que, nos últimos anos, derramaram o seu sangue por Cristo e o povo submetido ao seu cuidado.. E precisamente por causa do nosso amor à Igreja e à África que sentimo-nos tão tristes acerca do problema que vos apresentamos hoje.
Muitas historias inquietantes podem ser faladas. Entretanto, como todos aqui presentes sabem que este problema existe, e que embora muitas tentativas foram feitas para melhorar a situação, parece piorar em vez de melhorar, vou apenas apresentar o problema muito breve e concisamente. Depois vou sugerir quais são as causas principais.
O PROBLEMA
1.Parece ser frequente que as irmãs são incomodadas até violadas por padres e bispos. Às vezes, quando uma irmã fica grávida, o padre exige que ela faça aborto. A irmã normalmente é mandada embora da sua congregação e o padre muitas das vezes é somente transferido para uma outra paroquia – ou enviado a estudar.
2. Muitas irmãs tornam-se dependentes ao nível financeiro dos padres, que são capazes de pedir favores sexuais como retribuição.
3. Sacerdotes as vezes abusam da direcção espiritual e do sacramento da Reconciliação para pedir favores sexuais.
ALGUMAS CAUSAS DESTES ABUSOS
CELIBATO/CASTIDADE não é um valor em muitos países.
Casamento pode não ser viável para uma jovem educada por causa do "dote" ser alto demais. A vida religiosa pode oferecer uma alternativa, mas houve lá uma escolha real para uma vida em castidade e celibato?
A POSIÇÃO INFERIOR DAS MULHERES na sociedade e na Igreja é outro factor que merece ser considerado aqui.
Parece que uma irmã acha impossível recusar um padre que pede favores sexuais. Ela foi educada a considerar-se inferior, servir e obedecer – até ao irmão mais novo. Então é compreensível que uma irmã acha impossível recusar um clérigo que a solicita favores sexuais. Estes homens são vistos como "autoridades" que devem ser obedecidos.
Além disso, eles são geralmente mais educados e receberam uma formação teológica muito mais avançada que as irmãs. Eles são capazes de servir-se de falsos argumentos "teológicos" para justificar os seus pedidos e comportamento. As irmãs facilmente são impressionadas por estes argumentos. Um destes é seguinte:
"Os dois somos consagrados celibatários. Quer dizer que prometemos não casar. Mas nós podemos ter relações sexuais sem romper os nossos votos."
A PANDEMIA DE SIDA teve como consequência que irmãs são mais solicitadas pelo clero que antes porque são consideradas "seguras".
FINANÇAS.
Muitas congregações de mulheres lutam para encontrar bastante dinheiro para a sustentação e educação das irmãs. Muitas vezes quando irmãs trabalham para uma Diocese, não lhes é pago um vencimento justo.
Aquelas que são enviadas fora para estudar as vezes devem mandar dinheiro para a sua congregação e a sua família. Nalguns países fora de África, por ex. EUA, irmãs Africanas são exploradas com vencimentos baixos e seguros de saúde insuficientes em serviços tradicionais como catequese, que congregações Americanas não cumprem mais.
POUCA COMPREENSÃO DA VIDA CONSAGRADA
Bispos, padres, leigos e as próprias irmãs não percebem bem a vida religiosa, nem o significado dos votos ou carismas específicos de cada instituição.
RECRUTAMENTO DE CANDIDATAS por Congregações que não têm bastante presença naquele país, e não conhecem bastante a cultura. As vezes padres ajudam neste recrutamento activo.
IRMÃS ESTUDANTES que são enviadas para Roma (ou para Europa e EUA) para estudar muitas vezes têm dificuldades especificas. Uma é encontrar habitação em condições. Residências são disponibilizadas para seminaristas e padres, muito menos é feito para irmãs.
Irmãs enviadas para estudar fora do seu país muitas vezes são jovens demais ou imaturas. Lhes falta direcção, apoio e em muitos casos uma sólida formação religiosa. Muitas irmãs também não tem bastante educação básica para estudos avançados, ou elas não são bastante peritas na língua que elas devem estudar. Estas irmãs frequentemente vão aos seminaristas e padres para assistência escrevendo teses. As vezes são favores sexuais que elas tem que pagar para uma tal ajuda.
Não quero implicar que só padres e bispos são culpáveis e que irmãs são simplesmente as vítimas deles. Não, às vezes irmãs querem mesmo, e às vezes são simples demais.
SILÊNCIO
Uma outra causa que contribui às vezes é a "conspiração do silêncio" acerca deste assunto. Só se juntos pudermos contemplá-lo com honestidade seremos capazes de encontrar soluções.
Em março deste ano, eu falei aos bispos do Conselho Permanente de SECAM acerca os "problemas para congregações religiosas". O abuso sexual das irmãs foi apresentado como um dos problemas maiores. Como muito do que eu apresentei foi baseado em relatórios que chegaram de congregações Diocesanas e Conferências de Superioras em África, senti-me muito convencida da autenticidade do que eu estava dizendo. Os bispos presentes acharam falta de lealdade das irmãs mandar estes relatórios fora da própria diocese. Eles diziam que as irmãs implicadas deviam ir ao seu bispo Diocesano com estes problemas. Evidentemente, isso seria o ideal. Mas as irmãs alegam que têm feito isso muitas vezes já. Às vezes não são bem recebidas. Às vezes são acusadas de ter culpa do que aconteceu. E mesmo se são escutadas com simpatia, não há quase nenhuma consequência….
Durante sessões formais e informais, Superiores Gerais em Roma ouviram e partilharam relatórios de abuso sexual durante os últimos anos. Parece que chegou o momento para umas acções unidas.
Nos pensamos que isto pode ser feito melhor ajudando-nos mutuamente para desenvolver estratégias para enfrentar os problemas antes e depois que eles aconteçam.
colocado no Internet em Inglês sem autorização da autora pelo National Catholic Reporter (EUA), Março 9, 2001
http://www.natcath.com/NCR_Online/documents/africadocuments.htm
Tradução feito por Michael Buykx, Angola - versão 21-4-2001